Engraçado como nossa memória prega peças. Uma vez eu escrevi sobre meu relacionamento com o rádio e achei que fosse algo recente, de uns três anos, descobri que foi em 2011. O tempo realmente voa!
Para falar da minha atual experiência com o Spotify vou voltar décadas atrás quando era adolescente e escutar rádio estava entre minhas atividades diárias e, inclusive, horário nobre, ou seja, eu amava as novelas, mas tinha um tempinho para o rádio! Eu gostava tanto que fazia tops de estações de rádio preferidas! O rádio, até mais do que a televisão, era meu mundinho. A nova geração jamais saberá (e que bom) da dificuldade de gravar músicas, a quantidade de vezes que gravava pela metade porque eu gostava tanto que só de ter metade da canção gravada em um fita já me deixava feliz. Ah, apertar o botão rec/pause na hora certa era mais difícil do que muitos pensam! E como meu Walkman era um produto caro e perfeito para os dias entediantes! E ainda migrei para o tal aparelho de MP3, mas nada conseguiu me dar a satisfação de um Walkman. Não, não tive Discman!
Uma das coisas que eu mais temia quando jovem era virar uma adulta reclamando das músicas novas. Eu dizia pra mim mesma: “Eu vou me modernizar! Não vou ficar rabugenta reclamando da atualidade”. Ah doce engano! Até hoje eu sinto falta do bom e velho rádio para escutar músicas novas! E o rádio não morreu, só perdeu espaço na minha vida. É como a reclamação sobre a TV Globinho, não vou acordar cedo para assistir, se eu acordar é pra trabalhar, mas reclamo da ausência dela mesmo assim!
Aos poucos eu migrei para o Youtube, música de graça a qualquer hora desde que eu tenha internet. E é maravilhoso! Mas tem o chato do algoritmo que não me deixa sair da minha bolha, estou sempre ouvindo as mesmas músicas antigas e cá estou eu com a dificuldade de escutar músicas modernas, exatamente como eu temia. Se bem que esses dias eu me peguei ouvindo repetidamente Unholy de Sam Smith e Kim Petras e já me senti uma vitoriosa na vida! Só que todo mundo há anos fala do Spotify e eu tentei, eu juro que tentei, por diversas vezes, ser uma usuária frequente do aplicativo! Não rolou! Me recuso a pagar para escutar música! E sim, dá pra ouvir de graça, mas daí eu me sinto nos anos 90/2000 em que eu tinha que escutar músicas que eu não gostava para poder escutar a que eu gostava! A pior parte da nostalgia do rádio! Oras, quero a parte legal da modernidade! Ter limite para pular faixas é bem chato.
Como criadora de conteúdo eu sempre fui aberta a novas tentativas e lá em meados de 2010 eu já gravava podcast, bem antes da febre atual. Mas como boa geminiana, não fui para frente com o projeto. Agora pretendo retomar e com a esteira na minha vida comecei a ouvir podcasts nos Spotify. Confesso que também não foi como eu imaginava. Tentei conteúdos que me agradam, mas chega uma hora que me sinto entediada como se o assunto não saísse do lugar, no momento só o canal Nerd Show está conseguindo me ajudar a passar o tempo na caminhada. Confesso também que, ao que parece, como criadora de conteúdo eu sou péssima em consumir produtos alheios, acho detestável isso em mim. Preciso melhorar.
Enfim, a conclusão que chego é que apesar das inúmeras tentativas de não me tornar uma pessoa mais velha nostálgica, eu me tornei uma pessoa mais velha, chegando nos quarenta, nostálgica. Eu ainda não desisti do Spotify, tenho esperança de encontrar meu lugar lá, mas por enquanto me sinto frustrada.
Michele Lima
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Me vi um pouco nesse texto. Como a tecnologia avança e retrocede ao mesmo tempo né? Recordei de vários momentos nostálgicos lendo o seu texto.
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia