Spencer [Crítica do Filme]

“Pelo menos você não precisa trocar de roupa” diz a princesa Diana a um faisão, farta de trocar de roupa a cada vez que é chamada para um chá, almoço, jantar, sobremesa, foto com a Rainha e com o marido Charles que a trai sem disfarces com a tal Camila Parker. Então Diana surta e sofre, tem bulimia, devaneios, tem uma camareira como confidente e visões de Ana Bolena que até fala com ela.

Tudo se passa durante as festividades do Natal, dias antes de Lady Di pedir a separação de Charles. Professora e filha de camponeses, Diana viu seu sonho de princesa se tornar um pesadelo ao se tornar a mulher mais fotografada do século passado, perseguida pelos tablóides e o seu fim, polêmico até hoje, fica entre o acidente provocado pela imprensa que a tornou famosa e a sabotagem do veículo que a conduzia. Diana, ícone de moda e estilo com sua elegância tímida, caiu nas graças do povo do mundo todo e merecia aqui um retrato a altura de seus dramas pessoais. Diálogos e situações imaginadas não convencem nem como ficção baseada na realidade. 

O diretor chileno repete aqui muitos takes e maneirismos já vistos em Jackie (2016), outro longa imaginado sobre Jackie Onassis e seus dias pós o assassinato do marido. Com a intenção de fazer uma trilogia (a terceira figura a ser retratada ainda não foi anunciada) é nítida a semelhança entre os dois filmes: além da orelha amiga (em Jackie eram as conversas com o padre e em Spencer o papo é com a camareira), a caracterização das atrizes é bastante discutível. Natalie Portman mexe a boca de um jeito estranho que a verdadeira Jackie O. nunca fez e Kristen Stewart fala de maneira soprada e sussurrada, algo que Diana também não fazia. Não, e Kristen não compõe Diana com exatidão como vêm dizendo os fãs da atriz: seu olhar perdido, caras e bocas são os mesmos que ela fez a vida toda dentro e fora das telas. 


Há cenas constrangedoras como a do colar de pérolas caindo na sopa, suas “fugas pelos corredores, a obsessão pelo casaco do espantalho e pelo espantalho e as interações com o “fantasma” Ana Bolena, tudo pra ilustrar sua deterioração psicológica e seus impulsos suicidas. Faltou peso de protagonista à Kristen que talvez tenha seu Oscar garantido desde que vazou uma única foto sua caracterizada. Não tem nada de Diana Spencer aqui, apenas Kristen Stewart tentando imitá-la. Se ganhar, vai se juntar a Gwyneth Paltrow e Jennifer Lawrence como as atrizes inexpressivas que levaram uma estatueta dourada para casa. Os diálogos são tão clichês que parecem ter sido escritos por um autor de novela muito preocupado em agradar telespectadores nada exigentes.

Se a intenção era fazer um filme de alto nível para ganhar prêmios, o resultado ficou muito aquém do planejado: Spencer parece um daqueles tele-filmes baratos que o SBT exibia de sexta a noite. Impossível sentir empatia pela pobre princesa rica quando o roteiro e a condução resvalam para a comédia involuntária.

Trailer

 

FICHA TÉCNICA

Título: Spencer
Direção: Pablo Larraín
Data de lançamento: 27 de janeiro de 2022
Diamond Pictures

Italo Morelli Jr.

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