Do Fundo da Estante: Flor de Cacto

Assistindo a Flor de Cacto, é perceptível a sua origem teatral e que funciona muito bem como cinema, a exemplo de tantos outros ótimos filmes que tiveram no teatro a sua fonte de inspiração.
Goldie Hawn, em sua estreia nos cinemas que lhe valeu um Oscar de atriz coadjuvante, interpreta com graça e notável comicidade a romântica Toni Simmons. Com seu cabelo pixie e visual inspirado na modelo Twiggy, Goldie fez começou sua carreira em Hollywood com o pé direito.
Envolvida com um dentista mais velho, Julian Winston (Walter Matthau, sempre excelente), ela trabalha numa loja de discos e só aceita se casar com ele se souber que sua ex-mulher está de acordo e ficará bem. O problema é que Julian nunca foi casado e pede para que sua secretária Stephanie Dickinson (Ingrid Bergman, sensacional) que o ama em segredo há décadas, finja ser sua esposa.
As confusões são muitas, mas nunca forçam absurdos para impressionar o expectador. O clássico recurso de “encontros e desencontros” funciona de maneira exemplar. Tudo transcorre de maneira crível e a maior surpresa que podemos constatar é Ingrid Bergman num inusitado papel cômico.
Com uma carreira pautada por atuações dramáticas que lhe valeram três Oscar, Ingrid é a alma de Flor de Cacto. Nem Walter com sua experiência em comédias e nem o frescor da estreia de Goldie Hawn conseguem tirar o brilho de Ingrid em cena, seja na seriedade das cenas onde exerce a profissão e muito menos quando ela surge deslumbrante em uma balada. O momento em que ela dança nos faz querer levantar da poltrona e dançar junto. É tanto magnetismo que acaba por ofuscar a jovem Toni – o charme, elegância e a beleza madura de Stephanie justificam o título do filme.
Lançando na reta final dos anos 60 (época de muitas mudanças sócio-políticas e também do fim de um era em Hollywood pra início de outra cheia de incertezas), Flor de Cacto seria um estouro mundial mesmo se lançado hoje, graças a sua mensagem leve e universal. A não indicação ao Oscar de Ingrid Bergman é imperdoável. Num ano onde Perdidos na Noite chocou o mundo e nem a Academia resistiu e o premiou com os Oscar de filme e direção, Flor de Cacto conquistou o prêmio de atriz coadjuvante para a jovem e novata Goldie Hawn, para fúria da concorrente Sylvia Miles, favorita na categoria. Na época, Miles declarou: não é que eu me importe de perder, mas para Goldie Hawn? Isso foi um insulto!
Polêmicas à parte, Sylvia está hilária em Perdidos na Noite, no papel da mulher de meia idade sexy que diz ter vinte e oito anos. Seus poucos minutos em tela foram marcantes e são lembrados até hoje. Porém os votantes do Oscar, que sempre adoram destacar jovens talentos, decidiram premiar a promissora Goldie Hawn, cuja carreira desde então deslanchou e foi pautada por filmes cômicos.
Tudo começou aqui com este belo exemplar do gênero, prova do talento do diretor Gene Sacks no terreno do humor. Imperdível.
FICHA TÉCNICA
Título: Flor de Cacto
Título Original: Cactus Flower
Direção: Gene Saks
Data de lançamento: 16 de dezembro de 1969

Italo Morelli. Jr.

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