Memórias Póstumas de Brás Cubas [Resenha Literária]

Primeira vez que li Memórias Póstumas de Brás Cubas eu tinha 16 anos, depois aos 20 para entrar na faculdade de Letras, depois li na faculdade também e agora aos 36 anos reli mais uma vez a obra de Machado de Assis. Admito, adulta, na minha fase balzaquiana, pude compreender muito mais as entrelinhas e me deleitar ainda mais com o maravilhoso sarcasmo do defunto autor.
Ri muito mais agora com Brás Cubas do que quando eu tinha 16 anos, mas na época sua célebre frase “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” já me impactava, me reconheci nela e hoje ainda me reconheço. Como não rir com Cubas jogando na nossa cara o quanto era patético a cena de enterro na chuva, hoje, mais de um século depois, é um típico caso clichê de vários filmes e novelas. Machado foi realmente um homem à frente do seu tempo e utiliza o fato de morto não ter mais qualquer senso de moralidade para ser um narrador honesto, perspicaz e também bastante provocador. Brás Cubas provoca o leitor, provoca a inteligência, os sentimentos, diz claramente que não vai contar algo no capítulo, que o livro é dele, ele faz o que quiser. Se questiona até se o leitor terá capacidade para entender todas as nuances do livro. Uma quebra de quarta parede genial.
Nesta edição da Penguin & Companhia das Letras temos uma introdução muito necessária que nos situa todo o contexto da obra, mostrando que Memórias Póstumas de Brás Cubas até hoje é um livro difícil de ser definido, tem Realismo, Realismo Fantástico (ao ter um defunto autor) tem toques do Romantismo e até precede elementos do Modernismo, sendo uma das obras mais revolucionárias e inovadoras da literatura brasileira. 
“A franqueza é a primeira virtude de um defunto, pois na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças, obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência.”
Machado de Assis abusa do sarcasmo, Brás Cubas é pessimista, debocha da sociedade da época, expõe a hipocrisia, mas não procura muito se aprofundar nas motivações dos personagens. A obra não é linear, é um recriação do passado do narrador a seus modos impressionistas e por vezes usando a metalinguagem, mas acima de tudo é uma comédia! O cômico está bastante presente em toda a narrativa. 
O enredo é simples, vamos acompanhar o que foi a vida de Brás Cubas, um homem cínico, rico, que teve um caso com uma mulher casada, rejeitou outra por ser manca e se tornou obsessivo por sua criação, o Emplasto Brás Cubas, medicamento que seria anti-hipocondríaco, que serviria para aliviar a melancolia da humanidade, curiosamente o protagonista seria o principal paciente. 
“Dedicatória:
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”
Os capítulos são curtos, Brás Cubas não gostava muito de enrolação, mas por vezes se tornava prolixo e a obra é repleta de referências culturais e neste ponto as notas da edição ajudaram bastante! Aliás, é bom lembrar que depois da introdução temos uma nota do editor explicando sobre o estilo de Machado de Assis e que algumas coisas foram modificadas para ajudar a nossa compreensão, mas que ainda assim encontramos grafias hoje não mais utilizadas. 
Reler Memórias Póstumas de Brás Cubas foi maravilhoso, nada como a idade para nos fazer ter uma compreensão melhor das coisas. Recomendo.
FICHA TÉCNICA
Título: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
Onde Comprar: Amazon

 

Michele Lima

5 thoughts on “Memórias Póstumas de Brás Cubas [Resenha Literária]

  • 9 de novembro de 2020 em 18:22
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    Olá, Michele.
    Eu infelizmente não sou muito de ler clássicos. Esse mesmo já tentei na época da escola e infelizmente não gostei hehe. Mas que bom que a releitura foi ainda mais proveitosa para você.

    Prefácio

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  • 9 de novembro de 2020 em 22:11
    Permalink

    Eu li poucos clássicos na vida mas os que li curti. Esse vou tentar encaixar na tbr de 2021, porque 2020 não entra mais nada

    Resposta
  • 9 de novembro de 2020 em 23:16
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    Oi, Mi

    Com certeza a maturidade nos faz ver as coisas com outros olhos. Confesso que, das obras do Machado, é a que menos tenho vontade de ler, lembro da abordagem na escola e só. Mas ele está naquela lista de "obras que eu tenho que tomar vergonha na cara e ler". Então vamos ver. hahahaha

    Beijos
    – Tami
    https://www.meuepilogo.com

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  • 10 de novembro de 2020 em 02:43
    Permalink

    Oi, Mi! Tudo bom?
    Tive um flashback do ensino médio. Lembro de ter lido e foi um dos poucos clássicos que, na época, não foi um tormento de acompanhar UHASUHASUHASUHASUH ai vi uma peça adaptando também e foi show de bola.
    Eu gosto muito das histórias do Machado! Mas Dom Casmurro segue favorita.

    Beijos, Nizz.
    http://www.queriaestarlendo.com.br

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