Adú [Resenha do Filme]

Adú o novo longa da Netflix explora a emigração e a política de fronteira por meio de arcos contrastantes de protagonistas brancos e negros. 
Diz-se que a dor e os problemas de todos são válidos porque são vivenciados pelo eu. Mas com muita frequência, essa obsessão com seus próprios problemas nos cega para a injustiça e a tragédia humana em grande escala em nosso próprio quintal. Por um tempo, a emigração de países devastados pela guerra e assolados pela pobreza para a Europa tem sido um ponto de discórdia em termos de nacionalismo, política entre fronteira e ideais humanitários. Torna-se fácil nessa situação perder a floresta por causa das árvores.
Para a polícia da fronteira de Melilla, uma cidade autônoma sob a Espanha que faz fronteira com o Marrocos, quem quer que passe pela cerca é um “africano”, independentemente de qual país tenha viajado no continente. No final do filme, Miguel (Miquel Fernández), um guarda civil que espanca um refugiado político, Tatou (Emilio Buale), do Congo ao tentar pular a cerca, expressa isso em um diálogo revelador. Ao falar com Mateo (Álvaro Cervantes), outro guarda, diz que os “africanos” têm de “resolver os seus próprios problemas”. É uma linha redutora que se recusa a assumir a responsabilidade pelo legado do colonialismo ou da escravidão e como isso engendrou um clima de ilegalidade e pobreza no continente.
A África também evoca associações imediatas com a conservação – o único aspecto da região com o qual a maioria dos “salvadores brancos” se preocupa. Todas essas tensões e histórias racialmente arraigadas se desenrolam no decorrer do filme de duas horas por meio de três histórias separadas que estão interligadas da maneira como as vidas humanas são neste mundo globalizado.
Gonzalo (Luis Tosar) é um ambientalista bem-intencionado que trabalha como “assessor externo” para uma reserva florestal de elefantes. Mas ele só se preocupa com os elefantes e desdenha dos aldeões que vivem ao redor do parque da reserva e os próprios guardas florestais, em vez de buscar sua cooperação para encurralar os caçadores furtivos.
Não é como se ele desconhecesse a pobreza ou desespero ou porque os próprios caçadores furtivos continuam matando elefantes por quase nada. Apesar da enorme quantidade de dinheiro que está sendo despejada no parque, não há muita preocupação com as pessoas que vivem na área, que deveriam ser as verdadeiras partes interessadas nos esforços de conservação. Ele faz um grande show sobre “pagar seus salários”, o que em sua mente lhe dá o direito de dirigir as coisas por ali.
Mas, ao mesmo tempo, ele também mostra ser um pai preocupado com sua filha rebelde, Sandra (Anna Castillo), que vive drogada e atrás de festas enquanto vem visitá-lo.
A segunda história gira em torno dos guardas civis que protegem a cerca da fronteira e a costa de “ilegais”. Enquanto migrantes desesperados tentam pular a cerca farpada, Miguel dá um soco na cabeça de Tatou ao invés de deixá-lo atravessar. É uma situação tensa, com o desespero de centenas de pessoas colidindo com uma equipe de patrulha de três pessoas, já que o reforço não chega.
Equilibrando a perspectiva dos protagonistas brancos dessas histórias está a história de Adú (Moustapha Oumarou) e sua irmã, Alika (Zayiddiya Dissou). Em Camarões, eles testemunham caçadores ilegais matando um elefante na reserva para a qual Gonzalo está trabalhando. Sua bicicleta é descoberta pelos caçadores, e assim a perseguição começa. As duas crianças conseguem escapar. A bicicleta acaba por chegar a Gonzalo que a “dá de presente” à sua filha, que a vê como um “souvenir da África”.
O filme inspirado em histórias verdadeiras de migrantes é um olhar revelador sobre a face humana da crise dos refugiados europeus, que muitas vezes é abafada por políticas de extrema direita que vêem os migrantes como uma ameaça que se forma na entrada do país. A maior parte do filme é filmada na África, principalmente após o pôr do sol. A iluminação natural usada nos deixa com aquela sensação de tristeza e luto por tudo o que tem ocorrido bem debaixo dos olhos do mundo. 
Se você procura histórias dramáticas e mais pesadas, recomendo esse filme. Uma das melhores adições da Netflix nesse ano! 
FICHA TÉCNICA
Título: Adú
Direção: Salvador Calvo
Data de Lançamento no Brasil: 16 de junho de 2020
Nota: 5/5
Netflix
Natália Silva

2 thoughts on “Adú [Resenha do Filme]

  • 27 de agosto de 2020 em 17:50
    Permalink

    Oi, Mi!

    Já vi a chamada desse filme pela Netflix várias vezes, sua resenha me convenceu a dar uma chance pro filme e assistir, sem dúvidas tem muitas lições a passar!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

    Resposta
  • 27 de agosto de 2020 em 20:08
    Permalink

    Me interessei pelo longa. Ele parece ser histórico e dramático. Deve contar uma visão desconhecida por mim.

    Bom fim de semana!

    OBS.: O JOVEM JORNALISTA está em quarentena de 22 de julho à 31 de agosto, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. Mesmo nesse período, temos dois novos posts. Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

    Resposta

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