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Do Fundo da Estante: Jackie Brown [Nostalgia]

Depois da explosiva estréia com Cães de Aluguel (1992) e a consagração mundial com Pulp Fiction (1994), o que se poderia esperar de Quentin Tarantino?
Eis que em 1997, Jackie Brown nos era apresentado. A exemplo de ter “ressuscitado” a carreira de John Travolta com o capanga Vincent Vega em Pulp Fiction, Tarantino fez a musa do blacksploitation Pam Grier ganhar uma personagem memorável: a comissária de bordo Jackie Brown, que complementa sua renda trazendo para o país dinheiro sujo e drogas para um traficante de armas, Ordell (Samuel L. Jackson, ótimo), até o dia em que é pega pela policia e decide colaborar com as investigações.
O que ninguém esperava é que Jackie, com o auxílio do agente de finanças Max Cherry (Robert Forster, brilhante) planeja enganar Ordell e a polícia e fugir com 500 mil dólares.

Adaptando o livro Rum Punch (1992) do escritor Elmore Leonard, Tarantino desacelera no quesito violência, morte e sangue e aposta na estética dos anos 70 (inclusive na ótima trilha sonora) pra nos constar uma história inteligente sobre crime, confiança, trapaças e um pouquinho de romance. Bem pouquinho mesmo.

Pam Grier compõe sua Jackie com algumas caras e bocas, mas não compromete o resultado. Sua interpretação tem um cinismo delicioso e é verdadeiramente a alma do filme. Sabemos desde o início que Jackie é uma fora da lei, pilantra e perigosa, mas ainda assim simpatizamos com ela. É uma quarentona solitária que recebe uma mixaria trabalhando pra uma empresa aérea de segunda linha, bonita, charmosa mas não é flor que se cheire, afinal, presta serviços pra um temido traficante, igualmente solitário (Jackson), apesar de contar com os “serviços” da irritante Melanie (Bridget Fonda, impagável). Jackson também mostra serviço e constrói Ordell com uma postura bem diferente de seu personagem anterior, o antológico Jules Winnfield de Pulp Fiction. Ambos os personagens são ameaçadores, porém de maneiras diferentes, inclusive no visual. As cenas entre Ordell e Jackie mostram o quanto a escolha dos intérpretes foi acertada. Tanto Pam quanto Jackson estão bastante a vontade, como se atuassem em plena década de 70, distante do universo cheio de referências pop de Pulp Fiction e sua pegada 90’s. Nenhum fã do estilo blacksploitation reclamou e Jackie Brown segue sendo o primeiro e único revival do gênero, que infelizmente não voltou a ser moda.

Robert De Niro, num pequeno papel, não surpreende mas também não atrapalha. Sua atuação é contida e quase sem brilho, diferente da intensidade elegante do saudoso Robert Forster no papel do agente de finanças. Sem o mínimo esforço, ele rouba todas as cenas em que aparece, enquanto discretamente se apaixona por Jackie. Mereceu, portanto, a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante.
Como em toda boa história policial, há um plot twist e é preciso atenção redobrada pra entender todos os detalhes. É criminoso tentando passar a perna em criminoso com a polícia no rastro e nós, do lado de cá da tela, torcemos pra que todos fiquem bem – e isso não é compactuar com o crime e sim atestar o quanto o elenco é primoroso e conseguiu humanizar os personagens pra lá de desajustados.
Os Tarantofãs consideram Jackie Brown como o filme mais fraco do diretor. Reclamam da falta de corpos baleados e sangue escorrendo pela tela. Também não há diálogos marcantes e embates físicos ou psicológicos. O roteiro, simples até, se desenrola em mais de 2 horas e meia, sem pressa e sem forçação de barra.

Jackie Brown não enrola, não cansa, e diverte dentro do possível. Essa resenha é dedicada especialmente ao talentoso ator Robert Forster (1941 – 2019)

FICHA TÉCNICA
Título: Jackie Brown
Direção: Quentin Tarantino
Data de lançamento no Brasil: 22 de maio de 1998.
Nota:4,5/5

Italo Morelli Jr.

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