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A Pequena Sereia e O Reino das Ilusões [Resenha Literária]

Começo esse texto ressaltando que o melhor de toda arte é poder interpretá-la de diversas maneiras. A gente lê a mesma história, vemos o mesmo filme, olhamos o mesmo quadro e temos diferentes sensações e opiniões. Vi muitas interpretações distintas de A Pequena Sereia e O Reino das Ilusões e o melhor mesmo foi ter lido e tirado minhas próprias conclusões.
Acredito ser ingenuidade achar que depois de anos de submissão e opressão as mulheres consigam sair do fatídico ciclo do abuso com um estalar dos dedos. Algumas mulheres conseguem romper com mais facilidade do que as outras. A bruxa do mar, Ceto, é um exemplo de superação, outras demoram muito para conseguir, como é o caso de Gaia. Leva uma jornada inteira para que a protagonista entenda exatamente o que é liberdade e que ela não precisa de um homem para ser feliz. E no final, não achei que a autora estivesse promovendo misandria, uma vez que apesar da grande quantidade de personagens masculinos ruins, George, amigo de Oliver, se mostrou uma pessoa boa, dando indícios de que nem todo homem é igual.
Um dos fatores para Gaia não exalar simpatia é que a protagonista encontra Oliver por um momento e já fica completamente apaixonada, capaz de se livrar da garras do pai e perder a língua em um trato com Ceto para conseguir ter pernas. Sentimentos muito exagerados mesmo para uma adolescente de 15 anos. Gaia arrisca a vida para viver um amor platônico, sem conhecer Oliver direito, sem saber que tipo de pessoa ele era. Claro que a curiosidade de saber o que aconteceu com sua mãe também impulsiona a protagonista e foi o que me deixou curiosa boa parte da trama.
Gaia não é feliz no fundo do mar, precisa viver uma rivalidade horrível com suas irmãs e é completamente oprimida pelo pai. Vai se casar com alguém intragável e presencia constantes abusos no reino. No entanto, ao conseguir um trato com a bruxa do mar, Gaia sai da opressão do pai para ser submissa a Oliver que é um personagem mimado e egoísta. E ainda temos sua mãe que aguenta todas as malcriações do filho e ainda o apoia.

Gaia precisa do amor de Oliver para sobreviver ao trato com Ceto, fica sem voz, sem língua e a cada passo que dá é uma tortura para seus pés. A protagonista é movida pelo mistério que envolve sua mãe e principalmente pelos hormônios, pela futilidade de achar Oliver um rapaz bonito e romantizar algo que nunca teve com ele.
Louise O’Neill nos mostra um universo marítimo cheio de mistérios e gostei bastante da ambientação sombria e principalmente para a explicação das Rusalkas. Não temos aqui um conto de fadas e o empoderamento feminino não se dá por ter uma protagonista esclarecida sobre o feminismo, mas temos uma metáfora bem clara sobre como é viver por anos de submissão. Talvez as pessoas não gostem de serem incomodadas por uma narrativa mais pesada, mas a realidade da vida é mais complexa do que palavras de efeito.

A autora insere diálogos interessantes na narrativa nos apontando alguns aspectos da sociedade patriarcal e machista. Gaia apesar de não me transmitir carisma por suas atitudes impulsivas, consegue ter minha empatia e a construção da história foi boa o suficiente para me fazer querer chegar até o final.
A Pequena Sereia e O Reino das Ilusões tem uma edição bem bonita, com capa dura, boa diagramação, com bordas em azul, sendo mais uma história escrita por uma mulher do selo Darklove.
FICHA TÉCNICA
Título: A Pequena Sereia e O Reino das Ilusões
Autor: Louise O’Neill
Nota: 4/5
Onde Comprar: Amazon e DarkSide® Books

Michele Lima

Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi Mi!
    Eu confesso que fiquei com um pé atrás sobre o livro da Sereia. A Lu me falou umas coisas que eu talvez nao va curtir, mas ainda sim, tenho curiosidade. Essa edição e perfeita demais. Aff <3 Vou ler pra ter meu veredicto, nem que seja pra odiar KKKK.

    Abraços
    David
    https://territoriogeeknerd.blogspot.com/

  • Oi Mi, tudo bem? Eu já li algumas resenhas não tão positivas sobre esse livro, mas mesmo assim eu ainda sigo interessada na leitura e achei maravilhosa a tua observação no primeiro parágrafo, porque eu super concordo com isso: cada um terá sua visão, sua opinião que deve ser respeitada, mas não é absoluta (jamais!). E mesmo que eu não quisesse ler, acho que gostaria de ter o livro na estante só para babar na edição linda!
    Beijos, Adri
    Espiral de Livros

  • Olá, Michele.
    E ainda existem algumas mulheres que nem consegue enxergar o cenário que vivem. Eu tenho esse livro aqui em casa e assim que der eu vou ler ele. Li opiniões bem diferentes dele também, como você disse, cada um tem sua interpretação.

    Prefácio

  • Oi, Mi!
    Compreendo bem seus pontos, mas infelizmente como você viu esse livro não foi uma boa leitura pra mim. Entretanto, fico bem feliz que você tenha gostado e não ter passado um sufoco hahahhaha
    Beijos
    Balaio de Babados

  • Oi, Mi
    Acho que o melhor mesmo é cada um tirar suas próprias conclusões porque muita gente leva pro extremismo e ás vezes não consegue absorver as sutilezas da obra. Eu não sinto interesse em ler mas eu gosto muito dessa capa.
    Beijo!

    https://www.capitulotreze.com.br/

  • Oiii Michelle

    Ainda bem que a história teve boa construção e gostei dessa narrativa mais realista da autora quanto à questão de mostrar bem a opressão como modo de vida e como as cosias não ocorrem como "num passe de mágica". Pena que Gaia às vezes irrite, personagens assim impulsivas geralmente ganham minha antipatia, pois se metem em um monte de situações desnecessárias, mas ainda assim seria um livro que leria, pra formar minha própria opinião já que li todo tipo de opiniões sobre esta história.

    Beijos, Ivy

    http://www.derepentenoultimolivro.com

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