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Se a Rua Beale Falasse [Resenha Literária]

Se a Rua Beale Falasse foi adaptado para o cinema no fim do ano passado. Situado na década de 70, a história é narrada por Tish, contando como seu namorado Fonny foi acusado de estuprar uma mulher e foi preso injustamente. Quarenta anos depois, eu lendo essa história e percebi que ela é tão atual que chega a assustar.
Falar sobre esse livro é um tanto complicado. Você se sente impotente diante as situações de injustiça e preconceito; a vontade de entrar no livro e sair defendendo Fonny prevalesse durante toda a história. E são nesses momentos que você percebe que nada mudou no espaço de tempo em que a história foi publicada e a sociedade atual.
Tish como narrador onipresente foi uma boa jogada do autor. A inocência e esperança da personagem te conquistam. Apesar desses detalhes, ela não é completamente alheia à sua realidade como mulher negra e nem os motivos pelos quais Fonny foi indiciado. Na sua condição de grávida, ela ainda tem esperança que seu amor consiga ser inocente.
Achei interessante como o autor também colocou a questão do racismo entre a própria comunidade negra. Por terem a pele mais clara, a mãe e irmãs de Fonny tratam seu pai e ele como pessoas inferiores, assim como a família de Tish.
O livro é dividido em duas partes e foi escrito com se fosse um diário em que Tish narra não somente sua vida, mas a dos outros personagens. Apesar do tema central da história, a escrita de Baldwin é bem fluída e tem um toque poético, e é por isso que os tapas que são dados em algumas passagens doem mais.
Um único detalhe que até agora não sei como me sentir em relação foi o final. Por estar tão envolvida na história, ele termina de uma forma abrupta e deixa em aberto o destino dos personagens, principalmente de Fonny. Creio que foi esse detalhe que me fez dar nota máxima ao livro e colocá-lo na lista de favoritos de 2019.
Se a Rua Beale Falasse foi adaptado para cinema pelo diretor Barry Jenkins (Moonlight) e concorreu nas categorias Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante, a qual Regina King levou o prêmio por interpretar a mãe de Tish. Para ler nossa resenha CLIQUE AQUI.
Quotes:
“Dizem que os meninos são burros e que, por isso, devem aprender a trabalhar com as mãos. Aqueles meninos não são burros. Mas as pessoas que administram essas escolas querem ter a certeza de que eles não vão ficar espertos: estão de fato ensinando os meninos a serem escravos.” (pg. 43)
“Ele não era o preto de ninguém. E isso é um crime na porra deste país livre. Supõe-se que você seja o preto de alguém . E se você não for o preto de alguém, então você é um preto mau” (pg. 45)
“é muito assustador ser de alguém.” (pg. 92)
“O homem branco é um demônio. Com certeza não é humano.” (pg. 105)
“O mundo vê o que deseja ver, ou, na hora da verdade, o que você manda que ele veja: ele não quer ver quem você é, o que você é ou por que você é.” (pg. 146)
FICHA TÉCNICA
Título: Se a Rua Beale Falasse
Autor: James Baldwin
Nota: 5/5 ♥
Onde Comprar: Amazon
Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi Lu! Eu não conhecia essa história e quando falaram dela lá no grupo do Whats eu fiquei super curiosa, mas não sabia do que se tratava. Já está na lista de desejados, gosto de histórias que aconteceram no passado, mas que ainda assim são tão atuais que levam o leitor a muitas reflexões. Sei que vou precisar me preparar antes, porque sempre fico emocionalmente abalada com histórias que tratem de preconceito.
    Beijos, Adri
    Espiral de Livros

  • Oie Lu =)

    Infelizmente histórias assim ainda são atuais, mesmo quando saem de livros antigos. Tenho esse livro em casa, mas confesso que ele ainda não me chamou muito a atenção. Acho que vou assistir ao filme primeiro e se gostar dou uma chance para o livro.

    Beijos;***
    Ariane Reis | Blog My Dear Library.

  • Oi, Lu! Tudo bom?
    Eu tenho MUITA vontade de ler esse livro, o discurso dentro dele deve ser impactante e poderoso mesmo. Mas a Bibs tá com umas ressalvas que tão me deixando curiosa, então vou guardar minha vontade pra ver se as críticas dela me influenciam de outra maneira.
    Resenha maravilhosa, aliás!

    Beijos,
    Denise Flaibam.
    http://www.queriaestarlendo.com.br

  • Oi, Lu
    Eu ouvi falar do filme mas não fazia a menor ideia do que era a obra kkk agora estou bem surpresa, me lembrou muito um documentário que eu vi sobre o sistema carcerário dos EUA e em sua maioria são negros os detentos. A maioria das história relata que muitos ali foram acusados injustamente e tals, vítimas de preconceito de policiais brancos. É uma coisa foda de se ver e muito triste infelizmente.
    Beijo

    http://www.capitulotreze.com.br

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