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A paciente silenciosa [Resenha Literária]

Um livro malicioso e hipnótico – uma estreia estelar. É essa minha definição para um livro tão bem escrito!
O burburinho inicial que eu ouvi a respeito do livro A paciente silenciosa se refere à ele como um “thriller psicológico” – e embora certamente não haja nada tecnicamente errado sobre essa categorização, eu quero começar essa resenha oferecendo outra lente através da qual para enxergar essa excelente leitura. Então, como eu categorizaria esse livro? Em vez de chamar de thriller psicológico, eu o chamaria de estudo de personagem com um forte enfoque psicológico.
Quando ouço a palavra “thriller”, pessoalmente falando eu espero pegar algo rápido, sinuoso e talvez até um pouco suculento ou dramático. A paciente silenciosa é um animal completamente diferente – embora não seja menos viciante. A escrita de Michaelides é hipnótica e imersa, atraindo você pouco a pouco para um mistério definido não por reviravoltas chocantes, mas pela tentadora promessa de descascar, camada por camada, os segredos mais sombrios de uma mulher enigmática, e cumpre essa promessa! O autor faz o leitor pacientemente ser recompensado com uma revelação alucinante que mais do que satisfaz. Mas a melhor parte? A jornada lenta para essa revelação é tão gratificante quanto a própria revelação.
O impacto real do livro não vem em flash ou drama, mas na maneira silenciosa e metódica em que Michaelides expõe o funcionamento mais interno de seus personagens. Em sua essência, A paciente silenciosa é um estudo de caráter excepcional: não apenas da paciente titular da história, mas também do terapeuta que tem como missão tratá-la. Então, quem são esses personagens? A pintora Alicia Berenson é a “paciente” que dá nome ao livro. Alicia tinha uma vida perfeita como em uma fotografia… até o dia em que atirou em seu marido cinco vezes, matando-o. Depois desse ato horrível, Alicia nunca falou sequer mais nenhuma palavra. Para o psicoterapeuta Theo Faber, Alicia é o mais intrigante dos pacientes; Theo se vê atraído pela história dela, determinado a tratá-la e ajudá-la a encontrar sua voz novamente. Há algo profundamente trágico e quase mítico em relação a Alicia: Michaelides cria um personagem cuja complexidade e tumulto interior não são negadas pela comunicação verbal, mas por meio de descrições vívidas de sua aparência física e da obra de arte que ela cria a pedido de Theo. Ela é tão enigmática que começa a se sentir como um personagem quase mítico – uma qualidade que eu tenho que acreditar que o autor desenvolveu intencionalmente, enquanto ele traçava paralelos entre a história de Alicia e a de Alceste, a mulher no coração da tragédia de Eurípedes.
Ao longo do livro, Alicia é uma presença apenas fora de alcance e ainda assim está em todos os lugares ao mesmo tempo. É fascinante ler uma história que gira em torno de um personagem que não pode contar sua história diretamente ao leitor; Alicia se torna quase como uma tela em branco, um lugar onde os leitores irão coletar o que foi dito sobre ela, a fim de obter um vislumbre de insight sobre o terrível crime que ela cometeu.
Por outro lado, os leitores se aproximam e se relacionam com o psicoterapeuta Theo. É a história dele que seguimos mais de perto durante a leitura: assistimos a ele iniciar seu novo trabalho no Grove, a unidade psiquiátrica segura na qual Alicia reside; assistimos quando ele começa suas sessões com Alicia, procurando romper o silêncio dela; observamos enquanto ele navega pela burocracia de Grove e seus colegas. Ao mesmo tempo em que o psicoterapeuta está lentamente, mas seguramente procurando uma conexão significativa com Alicia, os leitores também estão buscando uma compreensão significativa da vida pessoal de Theo. Para um personagem determinado a desvendar os segredos de seu paciente, Theo é, ele próprio, bastante oculto do leitor; Michaelides acrescenta mais uma camada de mistério aqui, mantendo os leitores ligados à revelação gradual dos segredos dele, mesmo que os segredos de Alicia também estejam chegando à luz, e quando o final se aproxima o seu maxilar cai no chão.
Foi fascinante ver como os momentos para a apreciação da inteligência e da complexidade da trama tornaram o livro tão ricamente divertido. Michaelides faz com que pareça fácil, mas há muito trabalho aqui, incluindo (mas não limitado a) múltiplas linhas de tempo e meios de contar histórias – e quando os leitores experimentam a conclusão incompreensível dela, eles finalmente perceberão o quão complexa ela foi, e muito. Como um mágico literário, o autor toma uma premissa simples e, à vista de todos, transforma-a em algo maior que a soma de suas partes. A revelação final de A Paciente Silenciosa vale o preço do livro sozinho; foi a revelação mais chocante e inteligentemente planejada que li em anos, e sou uma leitora exigente quando se trata de revelações. Se você adora uma reviravolta que te deixará de queixo caído – e ainda assim totalmente imparcial, a conclusão do livro será entregue. E a melhor parte: mesmo que você adivinhe de alguma forma a revelação final do mesmo (o que acredito que será difícil), este livro é muito mais do que apenas “sinuoso” – a reviravolta é apenas a cereja em cima de um livro que é fascinante por si só.
Há tanta coisa que eu poderia escrever sobre o livro: sobre sua prosa imersiva e confiante, seus autoproclamados paralelos com a tragédia grega, suas imagens vívidas… mas eu tenho que me isolar em algum lugar, ou essa resenha virará uma soma de spoilers.
O livro de estreia de Alex Michaelides é sofisticado e com certeza merece todos os elogios efusivos iniciais que têm recebido. Ele é incrível e tem uma exploração labiríntica da psique de uma mulher condenada por assassinar seu marido. Um livro denso e hipnótico – o tipo de história de suspense confiantemente desenhada que não precisa de reviravoltas grandes e chamativas para mantê-lo viciado, mas que proporciona uma reviravolta excepcional. E acredite em mim: A Paciente Silenciosa é um dos melhores livros do gênero no ano.
O livro ganhará uma adaptação pela Annapurna Picture e Plan B e logo teremos essa história magnífica nas telonas. Eu recebi o livro pela caixinha VIB da Editora Record, e com certeza será um dos maiores livros do ano!
FICHA TÉCNICA
Titulo: A Paciente Silenciosa
Autor: Alex Michaelides
Nota: 5/5
Onde Comprar: Amazon



Natália Silva

Na Nossa Estante

View Comments

  • Nossa, que resenha sensacional!
    Natália do céu, você me fisgou já no primeiro parágrafo.
    Por tudo o que você disso, tenho certeza que vai ser uma leitura que vou adorar.
    E preciso ler antes que vire filme, porque sei que é aquele tipo de história que é mais impactante em livro.

    Beijoooos

    http://www.casosacasoselivros.com

  • Oi, Natália!

    Uau, ficou maravilhosa a sua resenha, me convenceu fácil de conferir a obra! E olha que não tenho o costume de ler livros do gênero, apesar de curtir e ter interesse pelas histórias. Essa aparenta ser daqueles que te prende do início ao fim. Curiosa pra saber mais a respeito!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

  • Olá, Natália.
    Eu gostei muito do livro e meu queixo caiu quando descobri a relação entre as histórias que até então eu não conseguia ver nenhuma conexão. Só não dei nota máxima por causa do final aberto.

    Prefácio

  • Oi, Natália
    Eu vi muita gente que adorou esse livro, ele tem surpreendido a maioria e isso é muito legal para o gênero. Infelizmente minhas leituras com thriller e suspense não fluem, então eu não me interesso muito pela leitura.
    Beijo!
    http://www.capitulotreze.com.br/

  • Oi Naty! Quando li a sinopse da história imaginava que o motivo de levar a personagem a assassinar o marido seria o ápice, a reviravolta, o ponto alto da trama, mas depois de ler tua resenha vejo que o diferencial dessa obra está no seu desenvolvimento, na compreensão do psicológico até onde é possível. Mais uma resenha maravilhosa, impecável e incentivadora à leitura.
    Beijos, Adri
    Espiral de Livros

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