Refugiados – A Última Fronteira [HQ]

Selva de Calais, também chamado de Abrigo de Calais, foi um acampamento improvisado de migrantes e refugiados localizado num terreno baldio na zona portuária da cidade francesa de Calais. O local recebeu a alcunha de “Selva” pelas condições precárias de vida que os imigrantes viviam ali
O local, que foi desmantelado em 2016, foi estabelecido como acampamento improvisado durante mais de uma década e tornou-se um símbolo da incapacidade de França de resolver a pior crise migratória da sua história pós-guerra. Foi também o maior abrigo temporário de imigrantes e refugiados, e também a maior favela na Europa ocidental.
Conforme Emmanuelle Cosse, ministra de Habitação da França, o local chegou a amontoar entre 7.000 e 10.000 migrantes que queriam apenas atravessar o Canal da Mancha para o Reino Unido através do Eurotúnel. Para tentar chegar ao Reino Unido pelo Eurotúnel, os migrantes ficam acampados em Calais, de onde saqueiam e depredam caminhões de carga. Por conta disso, quase diariamente haviam confrontos entre a polícia e os migrantes.

Kate Evans é cartunista, artista, ativista e autora, trabalhou no The Guardian onde produzia cartuns. Autora de Rosa Vermelha e a biografia em quadrinhos Rosa de Luxemburgo. Refugiados – A Última Fronteira é um dos seus trabalhos mais premiados. Nesse quadrinho Kate cobre uma faixa de tempo que vai de Outubro de 2015 até Março de 2016. Nesse período ela relata como foi trabalhar como voluntária na “Selva de Calais” com muitos refugiados de diversos países. 
Como sempre, a DarkSide® Books faz um ótimo trabalho com seus materiais, sempre muito bem apresentável com detalhes impecáveis. Como Calais era conhecida como fabricação de renda, esse tema foi incorporado ao trabalho gráfico, inclusive com uma renda como marcador de página. A arte lembra muito livros didáticos infantis, é um estilo próprio da autora, que parece desenhar com lápis de cor. Em alguns momentos, fotos reais são inseridas no desenho, dando um ar de veracidade. 
O estilo da narrativa me incomodou um pouco, os recordatórios são como pedaços de frases cortadas de folhas de papel, como colagens, assim como os balões de texto que não são balões na verdade, e pode ser que confunda o leitor em alguns momentos. No mais, ela consegue mostrar muito bem como é o dia a dia em um campo de refugiados. 
A Selva de Calais era um local sem infraestrutura necessária, muita lama, muita sujeira, quase nenhuma higiene. Mas as pessoas que lá residiam viviam com a esperança de dias melhores, de que um dia elas conseguissem chegar ao seu destino, encontrar aquele familiar que já se encontra estável em algum país da Europa. Mas esse dia parece nunca chegar. 
Kate ajudava da maneira que podia, cada um fazia o que podia. Ela, com artista, desenhava as pessoas que saiam de lá um pouco mais alegre. Ela ajudava na construção das casas, ou na verdade, dos barracos que muitos viviam, já que o material era escasso e precisava de muito controle para não prejudicar ninguém. Também ajudava na separação de doações, mantimentos e comprava 

Esse quadrinho não poderia ser propaganda melhor para militantes muçulmanos veteranos de campo de batalha que invadem o norte da Europa nem se o próprio Lênin o produzisse. A situação não existiria se pessoas que violam as leis em Calais não devastassem sua terra natal com ódio religioso, intolerância e guerra étnica. Você está importando a morte

Além de Calais, Kate também esteve em Dunquerque, uns 30km de Calais, onde havia outro centro de refugiados. No entanto, nesse local a situação era um pouco pior do que em Calais – se é que tem como ser pior. Com esse campo ficava próximo à uma área urbana, o controle era muito maior, principalmente o controle de entrada. Os agentes que lá estavam não permitiam que as pessoas entrassem com colchões de dormir e cobertores secos, assim como não era possível entrar com pães e outros alimentos. Num local com falta de comida, onde a chuva era implacável, não havia drenagem e tudo parecia um grande lamaçal, não permitir a entrada de cobertas secas é um tanto quanto indigno. 

Ah, você é voluntária em Calais?
Essa é, tipo, a última moda atualmente…

Os vários idiomas juntos não parecia ser problema, eles conseguiam se comunicar, seja por intérpretes, gestos ou do jeito que fosse. Mesmo com tantos problemas, Kate mostra que as pessoas ainda conseguem sorrir e se divertir com muito pouco, sempre amparados na esperança. 
Esse material pode ser considerado, por muitos, como parcial ou com teor político, mas é a visão da autora por ter acompanhado in loco todos os problemas que cercam a questão dos refugiados, algo que acontece ainda nos dias de hoje em várias partes do mundo, devido à guerras territoriais, políticas ou religiosas. As pessoas precisam deixar tudo para trás, em busca de um lugar digno para viver, em paz, mas só encontram truculência, ódio e falta de dignidade. 
Alguns trechos, entre esse texto, são frases reais que a autora recebia através das redes sociais, algumas de puro ódio.

Precisamos expurgar essa escória com fogo, não há outra escolha

A questão dos refugiados é muito ampla e complexa. Há quem defenda a entrada deles em seu país, alegando haver espaço para todos. Existem os que acham que isso beneficia economicamente o local. E há os que acreditam que eles devem ser proibidos, expulsos, que não tem lugar para eles, que vão apenas roubar seus empregos e mulheres (sim, também tem isso), sem contar os que acham que a grande maioria é terrorista que querem entrar nos países para dominá-los. 
Refugiados – A Última Fronteira tem como intuito mostrar um lado que poucos querem ver, ou assumir, mesmo que haja sim algumas pessoas com segundas intenções, a grande maioria busca apenas paz e um local digno para viver. 

Se uma menina tem um pouco de peito, ela é considerada uma mulher, e eles tem o direito de estuprá-la. Algumas meninas são tão novas… 10, 11 anos de idade.

Não tenho passado nem futuro no momento. Sinto que estou vivendo como um pássaro, sem lar fico. Meu coração está por um triz o tempo todo e eu estou sempre tremendo sem saber o que vai acontecer a seguir.

Eles seguraram [meus] ombros e pernas, pegaram meus testículos com o alicate e puxaram

Abaixo links de reportagens que podem ajudar a entender melhor o conflito em Calais:

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/10/comeca-retirada-de-migrantes-da-selva-de-calais-na-franca.html

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/reino-unido-comeca-construcao-de-muro-para-conter-imigracao-em-calais.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/07/internacional/1473269432_607764.html

FICHA TÉCNICA
Título: Refugiados – A Última Fronteira
Autora: Kate Evans
Editora DarkSide® Books
Nota: 3,5/5
Onde Comprar: Amazon
 

Renato Zanotte

10 thoughts on “Refugiados – A Última Fronteira [HQ]

  • 18 de janeiro de 2019 em 18:33
    Permalink

    Oi Renato,
    Eu admiro muito o trabalho da Darkside, as edições são tão maravilhosas e com histórias fortes, impactantes. Este livro, especificamente, não conhecia, mas deve ser porque não tenho o costume de ler HQs.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

    Resposta
  • 18 de janeiro de 2019 em 23:29
    Permalink

    Oi Renato,

    A Darkside arrasa quando se trata de trabalho gráfico. Não conhecia o livro, mas achei interessante o tema abordado.
    Bjs e um bom fim de semana!
    Diário dos Livros
    Siga o Instagram

    Resposta
  • 19 de janeiro de 2019 em 00:12
    Permalink

    Oi, Renato!
    Preciso me preparar mentalmente antes de pegar um livro desse estilo para ler. Fiquei bem interessada no livro e amo os livros da Darkside, pois são sempre muito caprichados! Vou deixar a dica anotada.
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

    Resposta
  • 19 de janeiro de 2019 em 02:39
    Permalink

    Excelente Artigo !! Eu estou adorando visitar blog, sempre tem conteúdo de muita qualidade …. São muitos legais, e interessante ….

    Parabéns !!!!

    Posso compartilhar este artigo no meu Facebook ?

    Meu Blog: Lotofácil

    Resposta
  • 19 de janeiro de 2019 em 03:43
    Permalink

    Olá, Renato

    Nunca se falou tanto em refugiados e crise de imigração. Eu lembro das reportagens na época e realmente era um lugar bem precário e insalubre. Fico pensando em como pode ter alguém, agora, dormindo noa EUA, por exemplo, enquanto milhares de pessoas estão presas, familiares estão separados e milhares de outros estão tentando entrar. Acho que as pessoas estão perdendo a humanidade.
    A edição está belíssima, adorei que veio uma renda de marcador.

    Beijos
    – Tami
    https://www.meuepilogo.com

    Resposta
  • 19 de janeiro de 2019 em 04:15
    Permalink

    Ainda me pergunto por que ainda existem guerras. Pessoas desprezando outras só por causa de onde vieram, como se a culpa fosse dele? Isso é tão hipócrita. As pessoas deveriam prezar mais pelo outro se querem realmente ser consideradas "pessoas de bem". Os medos são tão infundados em meio a tanta pobreza. Sinto que se lesse esse livro passaria muita raiva. Situações onde a justiça está basicamente inexistente é terrível. É triste saber que isso é uma realidade tão próxima.

    Parabéns pela leitura.

    Abraços.

    Ruby W.

    newsfallenbooks.com
    Instagram: @blogfallenbooks

    Resposta
  • 20 de janeiro de 2019 em 03:06
    Permalink

    Ouvi falar muito bem dessa HQ e fiquei interessada. Não gostei muito da arte, achei bem esquisita, porém o conteúdo é o que vale!

    Resposta

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