Categories: Uncategorized

Nujabes – Modal Soul

Certamente na biblioteca musical de todo apaixonado por música deve ter aquele disco ou artista que te dá à sensação de que só você o escuta? Seja pelo motivo de ser de uma cena totalmente desconhecida, por ser alguma banda independente ou simplesmente pelo fato de nunca ter visto/ouvido ninguém comentando sobre, certo? Então, é sobre um artista e disco nesses moldes que eu venho aqui hoje. O artista em questão é o produtor musical japonês Nujabes e o disco é a obra prima chamada Modal Soul.
Nascido em 1974 na cidade de Tóquio, Jun Seba fez de um anagrama de seu próprio nome o seu codinome artístico, Nujabes. Talvez, um dos maiores beatmakers da história, mas ao mesmo tempo, desconhecido, uma vez que vinha de um país onde a cena hip-hop não é tão forte e expressiva. Fatalmente, Nujabes veio a falecer em 2010, num trágico acidente de carro, deixando uma curta discografia, grande influência e uma mistura de atmosferas dentro de sua música que sem dúvida é o seu maior legado.
Nujabes lançou em vida dois álbuns – Metaphorical Music (2003) e Modal Soul (2005). Spiritual State (2011), foi lançado postumamente. E é justamente sobre seu segundo álbum, que iremos falar a partir de agora. Modal Soul não é apenas um simples disco de hip-hop. É um disco de variadas atmosferas ao longo dos seus quase 63 minutos. Um mix de experimentos, de mesclas que vão além dos samples jazzísticos, mas também um mergulho profundo numa psicodelia na medida certa, grooves de disco music e pitadas de um eletrônico/industrial dentro do hip-hop experimental e muito a frente de seu tempo produzido pelo produtor japonês.
Modal Soul conta com a participação de produtores locais como Uyama Hiroto e Shing02 – esse um grande parceiro de Nujabes – e rappers gringos para versar como Cise Starr, Akin, Substantial e Pase Rock que no gênero não são artistas do grande escalão, mas que se encaixaram como peças-chaves dentro do disco o tornando universal. Merece certo destaque dentro do álbum faixas como Feather, Ordinary Joe, The Sign, World’s End Rhapsody e Sea of Cloud.
Feather é um belo de um cartão de visitas. Conta com uma base com aquela batida típica do hip-hop e com uma letra bem forte que basicamente mostra o lado maligno do mundo e as diversas formas de lidar e de se adaptar para enfrentar tudo que se colocar a sua frente. Ordinary Joe vem logo em sequência com uma pegada mais dançante e um sample parecendo uma flauta parecida com aquelas encontradas em filmes orientais, manja? É daquelas músicas que tu viaja sem ao menos dar um passo pra frente. The Sign trás consigo uma bela base jazzística daquelas facilmente encontradas nos clubes de jazz americanos juntamente com elementos sonoros que te fazem mergulhar dentro do som e não apenas ouvi-lo, mas também senti-lo.

World’s End Rhapsody te teletransporta para os tempos da brilhantina juntamente com John Travolta dançando Stayin’ Alive dos Bee Gees. Com o seu swing dançante e imerso na disco music, é uma boa opção pra alegrar o dia. E mesmo que não venha a alegrar por completo, pelo menos vai te fazer balançar os pés e a cabeça de um lado pro outro. Sea of Cloud vem totalmente na contramão de World’s End Rhapsody. Uma calmaria do início ao fim. Se uma te fez querer dançar, essa certamente te fará relaxar e até dormir.

Em tempos onde Kendrick Lamar lançou um completo e complexo álbum de hip-hop com jazz – To Pimp a Butterfly (2015) -, me pergunto o que poderia estar fazendo Nujabes, uma vez que ele já fazia isso com maestria décadas atrás e certamente nos dias de hoje estaria mais lapidado e mais completo do que já era. A nostalgia da sua ausência nos faz olhar para o presente e ficar apenas imaginando o que não pode mais acontecer devido às peças que a vida nos prega, mas, seu legado vai ficar pra sempre e que Modal Soul possa ser encarado sim como um dos melhores discos de hip-hop de todos os tempos.

João Salmeron

Na Nossa Estante

View Comments

  • Olá João!!!

    Bem vindo!!! Nossa adorei sua resenha, te confesso que não conhecia Nujabes, e quando li sua resenha corri para a internet para me inteirar! Que bacana, letras profundas, com sentimentos e nuances que nos fazem pensar. Ouvi três músicas e quero conhecer outras! Feather é profunda e quando ele diz: so I'm driftin away like a feather in air, lettin my soul take me away from the hurt and despair, toca na alma mesmo!! Infelizmente nos deixou tão jovem, parece o mal desse mundo!
    Adorei a resenha e sua escrita!!!!

    Beijos
    Naty!!!

    • Fico feliz em saber do resultado positivo do texto e da apresentação que fiz desse grande artista. É um hip hop diferente, experimental mas ao mesmo tempo bem consistente e o resultado é esse disco maravilhoso. Foge um pouco da tradição de ser um gênero de protesto, e se revela como um gênero que também tem sua sensibilidade.

      Caso goste de Modal Soul, te convido e indico a escutar os outros álbuns dele.

      Beijos!

    • Luiza, tem no Spotify sim! Além dos três álbuns da discografia dele, tem uma renca de compilações e álbuns póstumos que ele teve colaboração que foram lançados. Vale a pena escutar.

      Beijos!

  • Oi, João

    Não conhecia o artista e com certeza continuaria sem conhecê-lo caso não me deparasse com a sua postagem, já que este é um estilo musical bem distante daquilo que ouço.
    Compreendo exatamente como é curtir algo e se sentir a única pessoa a fazer isso, é como me sinto ouvindo minhas baladas dos anos 60/70!
    Uma pena o falecimento dele, com certeza tinha muito mais para mostrar.

    Beijos
    - Tami
    https://www.meuepilogo.com

Share
Published by
Na Nossa Estante

Recent Posts

Genie – A Magia do Natal [Crítica]

Genie é um filme baseado no longa britânico Bernard and the Genie, de 1991 e…

1 dia ago

Banco Central sob Ataque [Crítica]

Com a temática de roubo, só que dessa vez baseado em fatos reais, e atores…

5 dias ago

Demon Slayer: Arco do Treinamento Hashira [Crítica]

A quarta temporada de Demon Slayer, Arco do Treinamento Hashira, chegou na Netflix dublada e…

1 semana ago

A Diplomata – Segunda Temporada [Crítica]

A segunda temporada de A Diplomata não demorou tanto para chegar no catálogo da Netflix,…

2 semanas ago

Agatha Desde Sempre [Crítica da Série]

Kathryn Hahn roubou a cena várias vezes em WandaVision e segue espectacular em Agatha Desde…

2 semanas ago

Conectadas [Resenha Literária]

A primeira vez que vi um livro da Clara Alves foi num estande da editora…

3 semanas ago

Nós usamos cookies para melhorar a sua navegação!