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Robin Hood: Dumas ou Pyle?

Não sei vocês, mas conheci o nome Robin Hood por meio das animações da Disney. Mais adiante surgiu o filme com Russell Crowe e foi após vê-lo que fiquei curiosa para ler algo que me fizesse entender a verdadeira história, ou melhor, a lenda por trás desse nome. Os anos foram passando e descobri o livro de Howard Pyle (enquanto tentava descobrir um livro sobre o Rei Arthur), o que me fez (re)descobrir o livro de Alexandre Dumas. Aproveitei e comprei os dois. Só esse ano parei para lê-los. A ordem de leitura foi a mesma da ordem de publicação dos livros originais: primeiro Dumas, depois Pyle.
A ideia sempre foi fazer um post fazendo uma comparação dos dois, mas a complexidade do tema me fez postergar. Só hoje, meses depois, a coragem veio. Talvez a distância da leitura me faça ter uma visão melhor dos dois, talvez não. De todo modo, espero que, de alguma forma, esse post seja útil. Sim, sou completamente apaixonada por Dumas e o conhecimento desse fato pode deixar minha imparcialidade em dúvida, mas prometo pra vocês que farei o máximo pra deixar meu favoritismo de lado. Vamos lá.
As aventuras de Robin Hood
(Alexandre Dumas)
Título original: “Le prince des voleurs” (Parte 1) e “Robin Hood le proscrit” (Parte 2)
Ano da publicação original: 1872 (Parte 1) e 1873 (Parte 2)
Edição lida: Clássicos Zahar, 2014, reúne os dois livros em um único volume, 462 páginas

Tradutor: Jorge Bastos

Análise do livro: Como qualquer outro livro de Dumas, a história é rica em detalhes. Toda a primeira parte conta as origens de Robin e como ele se tornou príncipe dos ladrões, apenas na segunda parte é que conhecemos as aventuras que viraram lendas. A família é algo forte na versão de Dumas, tanto a respeito da infância quanto a respeito da vida adulta do heroi. Ou seja, o livro francês traz mulheres e, consequentemente, muito romance, algo que claramente veio mais da imaginação de Dumas do que de fatos históricos. Apesar da montanha de informações e detalhes trazidos pelo escritor, a leitura não é exaustiva, pelo contrário, nos ajuda a construir melhor o lendário personagem.

Análise da edição: A capa dura da Zahar é irresistível, além da simples e bela ilustração usada. O livro não é ilustrado, mas é preenchido de notas do tradutor, que vão desde assinalar falhas na narrativa de Dumas (como citar um nome e depois outro para a mesma pessoa) até explicar referências históricas. Além disso, há uma apresentação inicial e uma detalhada cronologia biográfica sobre o autor no fim da edição. Os nomes dos personagens são traduzidos na mesma lógica da Disney, o que, a meu ver, é algo positivo.

As aventuras de Robin Hood
(Howard Pyle)

Título original: “The Merry Adventures of Robin Hood”
Ano da publicação original: 1883
Edição lida: Martin Claret, 2013, 309 páginas
Tradutor: Luiz Fernando Martins

Análise do livro: A narrativa de Pyle é mais próxima da cultura oral. Os capítulos são pequenos e o fim de um puxa o início do próximo. Ou seja, a impressão que temos é que estamos ouvindo a história de Robin Hood em uma roda de conversa. Sendo assim, a história não é cheia de detalhes descritivos, se apegando apenas aos fatos. Ao falar em capítulos curtos, a impressão é que a leitura é rápida, o que não é bem verdade. É gostoso parar a cada fim de capítulo para digerir o que nos foi contado, quase como se estivéssemos lembrando de algo que presenciamos, mas claro que a deixa no fim do capítulo não nos deixa abandonar a leitura por muito tempo. Ler Pyle é uma experiência gostosa, mas pode decepcionar quem gosta dos mínimos detalhes registrados. A narrativa é cheia de cantigas, o que nos traz um pouco da atmosfera da época – outro ponto positivo para mim.

Análise da edição: O livro é ilustrado, mas, apesar de Pyle ter sido um grande ilustrador, os desenhos da edição brasileira são assinados por Sérgio Magno. A capa não é dura e, pessoalmente, não achei as cores atrativas, mas essa questão visual nunca foi algo importante para mim. Algo que me incomodou muito na edição foi a não-tradução total dos nomes. O nome João Pequeno, tão popular na língua portuguesa, é trazido como ‘John Pequeno’ – pessoalmente não gostei da mistura de idiomas. Já algo muito legal na edição da Martin Claret foi a apresentação inicial de Robin Hood, trazendo a percepção histórica do personagem nas palavras da professora universitária Lilian Cristina Corrêa.

Estátua em homenagem a Robin Hood em Nottingham

E então: Dumas ou Pyle?
A pergunta é difícil. As duas obras são igualmente interessantes e trazem aventuras semelhantes (ou seja, as lendas principais do herói popular). Se a ideia é conhecer Robin Hood, os dois livros são indicados, porém se a ideia é apenas ter mais uma leitura, a resposta varia de leitor para leitor. Para quem gosta de romances históricos bem emendados, com detalhes que nos fazem entender como as coisas chegaram àquele ponto, Dumas é a melhor indicação. Já quem gosta de uma leitura rápida e quer algo mais factual do que romantizado (Dumas deu asas à sua imaginação), a versão de Pyle é a mais indicada.
Quanto às edições nacionais, acredito que a edição da Zahar bate de longe a da Martin Claret. Não, não falo apenas da encadernação. Falo das notas do tradutor que trazem tantos detalhes históricos sobre a lenda de Robin Hood, o período em que a narrativa se passa e o autor. A Martin Claret traz uma apresentação acadêmica no início da sua edição, o que de certa forma compensa, mas seria interessante se houvesse notas no decorrer da leitura. Quanto ao tamanho da fonte, a edição da Martin Claret é mais confortável, apesar da impressão não ser preta. Já a edição da Zahar traz uma fonte menor, provavelmente porque o texto de Dumas é maior e, claro, devido ao espaço ocupado pelas notas.
Ana Seerig

Já leram algum dos livros? Se sim, compartilhem suas opiniões. Se não, o post serviu para escolher qual edição ler? Espero que sim, já que espero que a demora por esse post tenha valido a pena (do contrário minha dívida com a Estante será triplicada). 

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