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Sem amor [Resenha do Filme]

Nem sempre um título traduzido fica tão condizente com a história como nesse caso. Sem amor é realmente o tema do longa russo que concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018. É um tipo de filme que quando a gente termina de ver entende perfeitamente por que algumas pessoas simplesmente não deveriam ter filhos.
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Alexey Rozin) é um casal em fase de divórcio, os dois se odeiam, brigam, mal conseguem ficar no mesmo ambiente, mas possuem um filho, que demonstra ser tranquilo, calmo e sensível. Desde o início é possível perceber que Alyosha (Matvey Novikov) não recebe muito amor da mãe com quem ele mora e tudo piora quando ele presencia uma discussão dos pais em que tentavam decidir o que fazer com a criança indesejável na vida deles. Um dia depois o menino some.
A cena em que Alyosha escuta a discussão dos pais é incrivelmente triste, o ator Matvey Novikov que pouco aparece no longa, marca sua presença numa cena forte de um choro silencioso que é de fazer os corações mais duros amolecerem. E ao longo da trama vamos percebendo que tipo de pais horríveis ele tinha.
Zhenya e Boris já estão em outros relacionamentos amorosos, vivem juntos, mas possuem vidas separadas. Zhenya está com um homem mais velho e rico, Boris está com uma garota mais nova e grávida dele, os dois demoram bastante para perceber a ausência do filho que é notada pela escola. A polícia pouco faz caso do sumiço da criança, entrando em cena uma investigação independente com pessoas especializadas em desaparecimentos.
A trama é bem lenta e em todos os momentos o roteiro se preocupa em nos mostrar o quanto arrependida Zhenya está de ter levado sua gravidez adiante, já que por diversas vezes ela diz claramente que deveria ter abortado de Alyosha, inclusive depois do seu desaparecimento. É como se a personagem tivesse passado por uma profunda depressão pós-parto que nunca se curou, tornando-a insensível com seu próprio filho. Já Boris é o típico pai ausente, negligente, que vive na inércia, a única coisa que se preocupa é com seu emprego, já que está com dívidas.
O roteiro poderia ter focado mais na vida de Alyosha quando ainda estava em casa, ou um pouco de como ele era, mas o que temos são cenas muito detalhadas sobre a atual rotina do casal. Certamente algumas partes poderiam ter sido cortadas e deixado o longa mais dinâmico, por outro lado houve uma boa construção de Zhenya e Boris, explorando bastante a personalidade deles.
O tempo passa e as investigações avançam e podemos perceber que os protagonistas acabam se dedicando na busca pelo filho, mas não é possível sentir amor por parte deles, aliás, o longa é repleto de pessoas ocas e fúteis. Ninguém se salva muito no filme, apenas o investigador do caso que parece levemente impressionado pelo fato dos pais não saberem muito do próprio filho.
Maryana Spivak e Alexey Rozin atuam muito bem e toda a trama é centrada neles. O uso da câmera com a perspectiva dos personagens é interessante e quando Boris está no carro parece nos fazer desviar a atenção para o que ele ouve no rádio, informações sobre o governo russo, que acabam se repetindo nas cenas finais do telejornal, se foram propositais ou não, fica a critério do espectador.
Sem amor é um longa para pensar sobre pais negligentes, sobre o fato de que nem toda mãe tem instinto materno como a sociedade costuma acreditar, que os lares infelizes afetam as crianças e que um pai ausente faz toda a diferença na vida de um filho. É um tipo de filme que quando você termina de ver passa a ter certeza de que o ser humano pode ser tão desprezível que é melhor mesmo não procriar.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: Sem amor
Título Original: Nelyubov
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Data de lançamento: 8 de fevereiro de 2018
Nota: 3/5

Michele Lima
Na Nossa Estante

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