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Uma dobra no tempo [Resenha Literária]

Quando as editoras leram Uma dobra no tempo pela primeira vez, elas tiveram dificuldade em classificar a obra de Madeleine L’ Engle que demorou anos para ser publicada, e ao fazer essa resenha passo pela mesma dificuldade. Não é um livro para rótulos, ele é expansivo em todos os sentidos. É uma fantasia infantojuvenil, uma ficção, uma aventura, uma linda história do bem contra o mal com personagens incríveis.
Meg é filha de um casal e possui irmãos inteligentes, bem acima da média, ao contrário dela, uma garota comum. Meg sofre com a ausência do pai que saiu para fazer suas pesquisas e nunca mais voltou, ela não é muito boa na escola, é impulsiva, nervosa, teimosa, mas extremamente corajosa, algo essencial na aventura que vive com seu irmão mais novo, Charles, e o amigo Calvin.

Charles tem apenas 5 anos e é extremamente inteligente, só não aprendeu ainda a ler porque sabe que precisa ser mais mediano quando entrar na escola ou sofrerá algum tipo de bullying por conta do seu alto Q.I. Presunçoso, o garotinho apresenta à família a Sra. Quequeé, uma mulher estranha que anda acompanhada pela Sra. Quem e as duas ainda tem uma terceira companheira, a Sra. Qual que não consegue aparecer muito fisicamente. As três estão na Terra para buscar as crianças, já que só elas podem salvar o pai de Meg. Junto com os irmãos está Calvin, um garoto de uma enorme família, que vive numa situação bem precária, mas que se comunica muito bem, por isso, todos na escola gostam dele. Calvin tem um pressentimento que o faz ir até Meg e esse sexto sentido também os ajuda nas horas mais difíceis.

Os três partem com as três senhoras por uma aventura no universo que está sendo dominado por uma matéria escura, uma força negra que envolve as pessoas. O pai de Meg está preso num planeta muito estranho em que todos fazem tudo exatamente igual, tudo sincronizado e perfeito. As imperfeições, como uma simples batida fora do ritmo ou uma gripe, são eliminadas. E é em Camazotz que Charles vai passar por uma enorme provação que resulta em consequências desastrosas.

A história é de fácil leitura e não nos mostra com muitos detalhes o universo criado da autora, mas talvez por ser apenas o primeiro livro de uma série de cinco que ainda conta com outros livros associados. Ainda que Madeleine seja rica em criatividade ao nos mostrar lugares interessantes, são os personagens que se destacam na trama. O trio protagonista é bem diferente entre si e as diferenças aqui são respeitadas. Charles pode ter habilidades acima dos padrões, mas até mesmo a normalidade de Meg é colocada como algo importante, mesmo porque seus defeitos são justamente o que os salvam.

Meg não é um heroína com poderes, ela é comum, teimosa e impetuosa, não tem a prepotência do irmão e é bastante corajosa para enfrentar coisas ruins. Meg se sente na obrigação de cumprir as expectativas, o que gera ansiedade e nervosismo nela e uma grande empatia no leitor. A autora também cria outros personagens que nos evocam imagens mágicas como as senhoras Quequeé, Quem e Qual. Não dá pra definir bem o que elas são e muito menos a forma delas, mas a cada descrição o leitor fica imaginando como as três podem ser.

Uma dobra no tempo é uma aventura em outros planetas, com viagens no espaço e tempo, em busca de resgatar não só o pai de Meg, mas o amor, a harmonia, tudo aquilo que é bom e nos faz bem. O livro é conclusivo e num primeiro momento pode parecer ter um enredo simples até demais, mas nas entrelinhas é possível perceber a mensagem bem positiva que a autora passa, com uma boa crítica ao Totalitarismo e à sociedade, com o toque de alguém que acreditava em Deus, ao mesmo tempo que tinha um excelente conhecimento sobre a ciência. E uma mulher falando de ficção é sempre um ponto positivo na literatura.

A edição da HarperCollins Brasil em capa dura é lindíssima e nos passa a ideia de ficção que está bem presente na obra. O livro também possui um discurso de agradecimento da própria autora a um prêmio recebido e um posfácio de sua neta que conta um pouco sobre a vida da avó. O trecho mais interessante é quando Charlotte afirma que para Madeleine, o feminismo significava liberdade, liberdade para ser quem você quiser ser, mesmo que seja uma dona de casa.

Uma dobra no tempo é uma leitura leve com uma ótima mensagem, uma boa trama de ficção com personagens que nos fazem querer ser amigos deles. É um livro em que o leitor ao refletir consegue pegar debaixo das camadas simples de aventura temas bem interessantes, como ter uma heroína sem poderes, a arrogância de quem se acha dono da verdade, um sistema de ditadura e o simples fato de que igual e idêntico não são a mesma coisa, já dizia a personagem Meg.

Uma fábula, uma parábola, uma aventura, o primeiro de uma série que vou acompanhar com certeza E vale lembrar que o livro foi adaptado para o cinema pela Disney.

FICHA TÉCNICA
Título: Uma dobra no tempo #1
Autora: Madeleine L’Engle
Onde Comprar: Amazon

 Michele Lima

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