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Star Wars: Os últimos Jedi é bom mesmo?

Nota da editora: aqui somos bem diferentes uns dos outros, nem sempre nossas opiniões condizem e por isso que apesar de já termos uma crítica de Star Wars: Os últimos Jedi que até foi bem positiva, resolvemos postar a opinião do colaborador Guilherme Augusto que não é tão positiva assim sobre o filme. Leiam, assistam ao filme e tirem suas próprias opiniões.
Michele Lima
Tudo aquilo para isso?
Para aquele que foi descrito em tantos meios como “o filme mais esperado do ano” cabe refletirmos se Star Wars Episódio VIII entregou tudo isso mesmo. Hoje em dia é difícil falar de uma produção dessa magnitude para criticar negativamente: há muita emoção envolvida. Emoção e hype. O que tenho visto nos principais meios que acompanho, internacionais e nacionais, a crítica tem se atentado muito para a beleza do filme, aspectos estéticos. Porém, um filme não é feito só disso, ainda mais um do calibre de Star Wars, que se destacou ao longo das décadas por uma história envolvente, rica em mitologia, de narrativa inteligente e personagens carismáticas.
Não sei se mereceria um Oscar, mas que a campanha de marketing mereceria o ‘Oscar da publicidade’ (seja lá qual for essa premiação) ela mereceria. Toda a construção de expectativa, o hype, os teaser, o bem montado trailer… A melhor coisa do filme é o trailer. Não, o filme não é descartável; acontece é que você sai realmente muito mais empolgado do trailer do que do filme em si.
O fato de o filme não entregar muito reside na narrativa. A própria história é montada e resolvida com poucos elementos; tudo aquilo que esperávamos, as teorias de fãs, o universo expandido que já nasce a partir do trailer (com as especulações dos fãs), tudo isso é destroçado pela simplicidade extrema com que o filme resolve uma série de mistérios. No fim das contas, tudo pareceu só um jogo mesmo, de mexer com nossas expectativas e com as emoções de fãs, e nos preparar para algo maior que não veio e nem viria.
No geral, as 2h32m são preenchidas com bastante “enrolação”, e isso apesar das elipses na velocidade da luz, de um filme bastante corrido narrativamente, que parece não construir muita coisa. A narratividade, aliás, é fraca, mais fraca que no episódio VII pelo menos. Tudo já começa no roteiro, com diálogos bem “xoxos”. A construção de personagem passa por um problema de consistência.
O pior de tudo, no que tange aos personagens, é vermos personagens tão instigantes como Finn, Poe Dameron, Supremo Líder Snoke ou a Capitã Phasma serem tão subutilizados; o arco de Poe passa, na verdade, por um problema de condução e conclusão, ele anda pra lá e pra cá como se estivesse perdido e acaba indo pra um lugar que já esperávamos, mas a sensação que fica é a de que não precisava todo o malabarismo feito durante as duas horas e meia para nos apresentar aquela conclusão pro seu arco.
Já das outras, grandes personagens, temos inserções pequenas. Temos aproveitamento bastante precário – na verdade a maior dor é ver o que fizeram da Capitã Phasma mesmo; nossa, quantas possibilidades, e todas descartadas… Finn, o marketing e o episódio VII preparam tanto, para agora entregarem um monte de nada; um arco bem fraco, mal concluído e com a inserção desnecessária da personagem Rose – o conceito de Rose até é interessante, mas como ela foi executada acabou a fazendo desnecessária. Snoke fica sem explicação, não sabemos de onde veio, pra onde foi; uma coisa é certa: espero de coração que o nono filme explique. Aliás, se o episódio IX explicar várias coisas desse VIII isso salvará algumas personagens e inclusive o próprio filme, tornando-o muito mais cabível no todo da trilogia – e só assim, como um legítimo “filme de meio” que ele funciona. Como filme sozinho ele deixa muito a desejar.

Há uma inesperada adição de humor na história, pela primeira vez talvez em Star Wars vejamos tantas gags saindo das bocas e ações de praticamente todos os personagens, dos principais aos secundários. Talvez seja efeito da onda “engraçadinha” tomando os heróis da Marvel, mudança de discurso que a Disney decidiu após o sucesso de Guardiões da Galáxia – e agora parece expandir para seus outros universos fora da Marvel. O problema é que faltou habilidade, talvez da direção, em concatenar bem esses momentos humorísticos com a trama (eu, que sou um entusiasta de Thor Ragnarok, e achei que houve boa coerência do humor com a ação no filme poderia até arriscar que um Taika Waititi faria bem a Star Wars, se é que a Disney quer mesmo tomar esse rumo com a franquia); às vezes simplesmente não tem coerência, por exemplo, uma piada fora de timing ou vinda da boca de algum personagem tão sério – embora outras vezes funcione.
A conveniência com que o roteiro resolve os conflitos também é um tiro no pé, perto da criatividade que esperaríamos de uma franquia de ação em geral de discurso tão mais aprofundado como Star Wars. Faltou consistência nas motivações de importantes personagens, outras coisas ficaram jogadas e foram esquecidas, o roteiro parecia ser só uma alavanca pra movimentar e impulsionar o filme, e não o seu centro. A impressão é que nos foi passada uma história vazia, com muitos efeitos visuais, alguns fan services, presenças de heróis aclamados, um repeteco de algumas jornadas clássicas, e é isso; há até uma tentativa de mudança de rumo – abrir uma novidade no universo da franquia –, eles tentam emplacar um novo discurso irrompendo a simples e maniqueísta tradição do bem contra o mal, dos Sith contra os Jedi, há mais mistérios ali nos livros que “Luke não leu” (e que talvez Rey venha a ler algum dia próximo? Não sabemos), só que o problema é que ao tentar encaixar e resolver esse discurso na narrativa, o filme parece que fica preso no discurso antigo cada vez mais. Isto é. justamente quando tenta lançar mão de um novo rumo, mudar de estrada, ele acaba pegando a velha estrada e cai no mais-do-mesmo de onde tentou explicitamente sair (o discurso simplista).
Sobre as conveniências do roteiro, também importante dizer que algumas soluções parecem preguiçosas (SPOILERS PESADOS) como a investida da nave da vice-almirante Holdo destruir toda a frota inimiga e uma nave gigante daquelas como a nave do Snoke – e não fica claro se foi a investida kamikaze ou a explosão de força na luta entre Rey e Kylo; o Snoke todo poderoso, com os poderes mais picas, de entrar na mente e tudo, não prever o Kylo mexendo o sabre do lado dele – a menos que isso tenha sido uma falsa solução e o Snoke volte no nono filme; a Rey virar expert em alguns dias na ilha sem fazer nada e sem nem completar as 3 lições do Luke; as explosões absurdas das quais personagens como o Finn e o Poe escapam; a inexplicável demora de um exército com armas de última geração para explodir um portão de ferro.
Um dos maiores trunfos do discurso que poderia ser melhor utilizado é a questão da esperança vir dos oprimidos da Galáxia. Tudo é tratado muito como um pastiche cultural, a romantização fácil desse discurso; mas para quem conhece um pouco da história das revoluções contemporâneas, sabemos que não é nada fácil e nada ‘engraçadinho’ quando os oprimidos se levantam para trazer uma nova ordem para o seu cosmos. Seria possível aprofundar o discurso, especialmente no arco de Finn e Rose, mas tudo é tratado com pressa, não é o foco; há críticas rápidas e bobas ao status quo, que uma alegoria como Star Wars tinha o dever moral de apresentar de forma mais séria (o que talvez sob a Disney nunca venha a acontecer).
Ao cabo da experiência, tudo pareceu um sonho interrompido de fã. Ficamos uns dois anos esperando tantos acontecimentos, tantos rumos inesperados para a história. Algumas soluções funcionam bem (como o mistério dos pais da Rey), porém, a maioria delas segue a mesma cartilha: vamos complicar para depois simplificar. O que fica repetitivo. Criam uma expectativa apoteótica que repetidamente é quebrada com soluções simples e fáceis; e o pior, mal explicadas (como o desfecho de Snoke ou as motivações de Kylo Ren, que são vacilantes e contraditórias, mas não de um jeito coerente com o personagem, e sim de um jeito que parecem mal construídas pelo roteiro mesmo).
O filme, de fato, é lindo. Algumas surpresas são de amolecer o coração dos fãs (como a cena da árvore na ilha onde Luke está, ou o desfecho do arco do personagem). Mas toda a tecnologia e a boa capacidade da direção e da direção de fotografia deveriam ter sido melhor embasadas por um roteiro mais competente e menos preguiçoso. Um filme que pareceu ser muito mais planejado para vender, em primeiro lugar, entreter em segundo, e em terceiro esqueceram de uma boa e criativa história; uma vez fascinados, não pensamos nos seus problemas e nas suas incoerências dentro da lógica interna da própria franquia e do que representa Star Wars na cultura pop.
Star Wars: Os Últimos Jedi não é o filme que queríamos ver, mas seria o filme que merecemos? Acho que não. Como toda opinião é subjetiva, aqui fica a minha: merecíamos mais; se tudo “aquilo” que me venderam de expectativa resultou só “nisso”.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título:Star Wars: Os Últimos Jedi
Título Original: Star Wars: The Last Jedi
Direção: Rian Johnson
Data de lançamento no Brasil: 14 de dezembro de 2017.
Disney

Guilherme Augusto
Na Nossa Estante

View Comments

  • Nossa! Agora quero assistir msm!
    Hehehehehehehhe
    Pra ver com qual opinião concordo!
    Acho mega interessante isso, de pontos de vista diferentes
    do debate inteligente, dos questionamentos...
    ótima crítica Guilherme!
    Parabéns!

    Bjooos
    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

  • Eu nunca havia assistido os filmes de Star Wars por inteiro, mas esses dias maratonei os 6 primeiros filmes na Netflix, pois fiquei curiosa para assistir aos novos filmes... Só espero que tenha valido a pena hahaha

    Beijão =D
    Toca da Lebre

  • Olá Guilherme! Tudo bem?
    Acho que tive exatamente a mesma opinião que você! Também fiz uma resenha no meu meu blog falando, só tentei me manter um pouco mais subjetiva por medo de dar spoiler, já que soltei a resenha na própria quinta-feira. Mas acho que realmente tudo se resume ao que você falou: foi muita expectativa para umas coisas simples demais e que frustraram de verdade... Esperava muita mais para a história da rey, apesar de entender que eles quiseram passar a ideia de que 'qualquer um' pode controlar a força (ainda mais com aquele última cena), mas era de se esperar muito mais do que isso por causa de tudo que criaram no episódio VIII, então permaneço frustrada. e o snoke gente.. que surgiu do nada e para o nada foi sem rodeios! achei super forçada a maneira como trataram essa trama do finn e da rose... preguiça! enfim, concordo com tudo! haha maaas óbvio que me emocionei com algumas dessas cenas que falou também ^^
    beeijo

    https://lecaferouge.blogspot.com.br/

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