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Os Guardiões [Resenha do Filme]

Conferimos a Cabine de Imprensa de Os Guardiões.
Pegando carona no sucesso dos filmes de super-herói (com certo delay, porém) a Rússia lança agora no campo de batalha os seus “Guardiões” (que não são os da Galáxia). Na trama, quatro super-humanos oriundos de um projeto secreto (‘Patriota’) gestado ainda durante a Guerra Fria, são reunidos na Moscou de 2015 para impedir um ex-cientista do projeto, Augusto Kuratov, transformado num monstro superpoderoso, de reativar uma arma soviética de destruição em massa. Uma espécie de ‘Vingadores’ de baixo orçamento (US$ 5 milhões), Os Guardiões tem sido massacrado mundo afora por causa de seus efeitos especiais, mas devo dizer: este é só o menor de seus problemas.
Não quero só somar uma tocha a brandir em meio à turba enfurecida. É preciso sim ressaltar os problemas do filme (e são vários), mas também, pelo contexto, compreender as suas limitações, diante das grandes produções que ele tenta emular. O que se esconde por trás das críticas apenas à sua má qualidade visual é, na verdade, uma condenação de sua incapacidade em alcançar o primor técnico daquelas produções; mas nossos olhares estão muito condicionados por uma exposição massiva a um só tipo de ‘fazer cinema’: antes de dizer que a superprodução russa é uma porcaria, é preciso verificar se não estamos considerando-a face à capacidade econômica de uma Hollywood (que talvez equivalha ao PIB da Rússia… ok, estou exagerando… ou não).
Feita essa reflexão, aí sim, podemos passar a pensar nos porquês de o filme ser uma porcaria – e perceberemos mais claramente que de forma geral estamos bastante habituados a porcarias, mas porcarias bem maquiadas. Por quê? Porque os maiores problemas de Os Guardiões vêm do roteiro; mas péssimos roteiros são frequentes no “Hollywoodão das massas” que estamos tão acostumados. Ele é pobre e repleto de diálogos expositivos, ou algumas vezes só toscos. Há pouco ou nenhum desenvolvimento de personagem, situações mal construídas, estabelecendo ‘zero’ de empatia com o público.
O entretenimento de ação hollywoodiano só se diferencia mesmo pelas verbas astronômicas para efeitos especiais e por um específico “feijão com arroz” de montagem e edição que funciona bem. Uma montagem hábil ajudaria Os Guardiões. Além de encaixes errados de cenas em momentos errados, ela soa acelerada, abusando das elipses, e uma sucessão de cortes secos encadeando sequências quase aleatoriamente. O ritmo se torna sacal de acompanhar, não há tempo de “curtir” o filme, e dá impaciência na poltrona.
Mas montagem tão ruim a ponto de irritar, e roteiros medíocres, nós vimos até mesmo na parceria entre Marvel e Netflix, com Punho de Ferro e Os Defensores, que costumava ser ótima e tem tanta verba, não é mesmo?
Voltando a Os Guardiões, falhas de roteiro e montagem são agravadas por atuações apáticas, fracas e insossas entregues pela maioria dos atores. Mas talvez, o problema de atuação não fosse tão incômodo se não fosse por uma horripilante dublagem em inglês! E a consumação de toda a tragédia até aqui descrita está na sonoplastia e na edição de som.
Os outros problemas talvez não ficassem tão evidentes se o trabalho de dublagem não fosse tão ruim. Na verdade, não tenho certeza, mas suspeito (com 90% de chances de acerto) que os atores mexem a boca “em inglês”, e não estão falando russo (para só depois a dublagem ser adicionada na pós). Caso seja real, este fato por si só engessa qualquer atuação e fulmina a desenvoltura dos atores no set. De todo modo, a dublagem robótica e sem emoção alguma já compromete a experiência do espectador.
Seria ridículo o motivo de praticamente matarem o filme, com uma dublagem nem sequer sincronizada entre lábios e voz, ter sido uma estratégia de marketing da cabecinha de algum executivo do estúdio: exportar dublado em inglês para ganhar mais mercado internacional. Ideia que seria, inclusive, estúpida, pois o público, percebendo, faz a má-fama, e no fim o estúdio pode até ter fechado uns contratinhos a mais na hora de distribuir o filme mundo afora, mas vai deixar de lucrar talvez ou dobro ou triplo na bilheteria.
A sonoplastia peca, ainda, por uma adição de efeitos sonoros nas cenas de luta perceptivelmente mal colocados. Já a trilha sonora, em si não é ruim e até combina com a ação e o estilo do filme, por remeter à música ambiente de games de ação e estratégia – e muitas vezes parece que estamos assistindo a cut scenes de um –, o problema é que ela entra em alguns momentos inoportunos, fora de timing, e é exaustivamente repetida (gerando um efeito quase cômico de novelão mexicano, daquelas que a todo momento que quer forçar um melodrama, joga a mesma música tema na cena).
Os efeitos especiais vêm só coroar tudo isso, escondendo sob uma cosmética um pouco tosca aqueles problemas mais graves. Se analisado isoladamente, o visual nem é tão horrível. Os piores momentos são as transformações do personagem Arsus em urso, remetendo-nos àquelas hesternas tentativas da Marvel no cinema, igualmente vexaminosas, como Hulk (2003) ou Quarteto Fantástico (2005).

E, no geral, o CGI e o trabalho de renderização remetem a grandes produções hollywoodianas do início da década, ou seja, nada grotesco, apenas datado. E já que citamos séries também, cabe mencionar, se você é fã de Doctor Who e não se importa com aqueles efeitos, certamente você não irá se incomodar com Os Guardiões por causa disso. Além disso, parte do público assistiu ao filme na internet, e algumas versões ‘vazadas’ não estão com a mesma qualidade final do que vemos na telona – melhor, por sinal.
É possível inclusive notar certa destreza da câmera e da edição de imagem em esconder alguns (d)efeitos que poderiam ser bem piores. A câmera, aliás, é o que nos entrega os poucos aspectos positivos do filme. Ao menos alguns planos são estilosos, graças a escolhas acertadas de ângulos e movimentos de câmeras apropriados – o que estraga são os diálogos em cena.
As coreografias das cenas de luta não decepcionam (e eu já mencionei aqui como paradigma Punho de Ferro e Os Defensores, que com muito mais verba e capacidade técnica nos ofereceram lutinhas sofríveis de ver). O que compromete esses momentos do filme, de novo, é ele, o roteiro, oferecendo aos conflitos soluções preguiçosas ou excessivamente convenientes.
O conceito é bom. A ideia por trás dos heróis (como cada um ser de uma nacionalidade da ex-União Soviética ou de uma região da Rússia, o que traz um campo fértil para a criação) e seus poderes, até é instigante. O passado da Guerra Fria está presente de forma tímida, mas só de ver na tela um vínculo histórico por trás de super-heróis, e de ver uma Moscou – e não Nova York – como cenário da trama, já é uma novidade para o gênero. No fim, o triste mesmo é que foi tudo mal executado. Digo, como poderia não ser uma boa ideia um russo que vira um fuckin’ urso com uma metralhadora giratória?
A história poderia ser mais interessante se melhor explorada (roteiro) e mais bem apresentada (montagem e edição). Os ganchos, na última frase do filme, da Maj. Elena Larina (espécie de ‘Nick Fury’ desses heróis), e na cena pós-créditos deixam a promessa de um segundo filme. É engraçado notar que a única premiação à qual ele foi indicado é a de melhor comercial de TV de filme estrangeiro, no Golden Trailer, que, realmente, despertava curiosidade. Esperamos que no 2º filme, ele nos atenda, enfim, essa expectativa.

Trailer:

FICHA TÉCNICA
Título: Os guardiões
Título Original: Zashchitniki
Diretor: Sarik Andreasyan
Data de Lançamento: 31 de Agosto de 2017
Gui Augusto
Na Nossa Estante

View Comments

  • Sério, eu fico chocada com a perfeição das suas resenhas de filmes.
    É tão bem construída. Você nos mostra em detalhes o que é bom e o que não é no filme e de uma forma tão sincera.
    Eu como uma pessoa que já se decepcionou com filmes, não acompanho tanto os lançamento, mas adorei o que você falou de que muitos filmes de Hollywood tem um roteiro bem ruim, mas só que a produção, o orçamento e tudo mais acaba escondendo isto.
    Bom, este filme eu não conhecia e sinceramente, não gostei do trailer, então, provavelmente nunca irei assistir.
    Mas, ainda estou fascinada com a forma como você consegue desenvolver tão bem suas críticas. Parabéns.
    Magia é Sonhar

  • Oi Gui, tudo bem?
    Que chato assistir a algo que nos desmotiva tanto! Eu não sabia sobre o filme, mas achei a ideia interessante. Uma pena que não souberam usar bem seus recursos e fazer algo mais bem produzido.
    Abraço.
    Doces Letras

  • Olá, tudo bem?

    Quando eu vi o trailer desse filme fiquei tri empolgado! Altas cenas de ação, e aquele homem urso saído direto de Altered Beast, muito legal! Aí enchi o saco da patroa para assistirmos e, depois de muito reinar, ela topou. E que bela bosta...

    A ideia do filme é boa, aliás muito boa. Mas só. O desenvolvimento foi catastrófico, por vários motivos que você ressaltou aqui. Eu particularmente me incomodei muito com os diálogos. Como exposto na sua resenha, pode ser que o esquema da dublagem é que tenha ferrado tudo, mas era muito forçado. Assistimos 40 minutos de filme e desistimos.

    Uma pena, pois era uma ideia com potencial...

    Abraço!
    Marcelo Brinker
    Leitura Kriativa
    http://leiturakriativa.blogspot.com.br/

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