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O Castelo de Vidro [Resenha do Filme]

Conferimos a Cabine de Imprensa do filme O Castelo de Vidro.
O diretor americano Destin Cretton chega bem a seu quarto longa (se considerarmos Drakmar, de 2006, dirigido ao lado de Lowell Frank) e ele gosta de contar histórias não muito fáceis de pessoas (em sua maioria, adolescentes) que, por mais especiais e interessantes que sejam, costumam aprender de forma dolorida e marcante as maiores lições da vida. Sim, porque estamos nesta vida para aprender lições. Algumas serão facilmente internalizadas e as marcas serão leves e nada aparentes. Outras, porém, irão marcar fundo e por anos e anos tentarão ser assimiladas. Ainda assim, não saberemos se isso realmente ocorreu.
Família é algo que marca. Família é algo que nos ensina muitas lições. Família sempre tem tudo para nos estruturar. Ou não. Ninguém consegue escolher em qual família vai nascer e como a história dessa família será escrita. E então vem a infância, a adolescência e nos tornamos adultos moldados naquilo que a nossa família nos deu, de melhor e de pior. E como adultos, precisamos saber filtrar essas informações. O Castelo de Vidro trata exatamente disso.

Jeannette Walls (a premiada Brie Larson), autora do livro que deu origem ao filme, nos apresenta a sua família um tanto caótica e desestruturada de forma pungente e ressentida. O pai, Rex Walls (Woody Harrelson), vive num constante não fazer nada e sempre ébrio, fugindo de credores. A mãe, Mary Rose Walls (Naomi Watts), dá mais importância a seu dom artístico do que aos filhos, por mais que seus quadros não a leve a lugar algum. Começamos com a pequena Jeannette aos 5 anos de idade, tendo que cozinhar sua comida enquanto a mãe termina mais um de seus quadros. Daí para a frente, muitos momentos cruéis cercados por irresponsabilidades paternas serão mostrados. Talvez de uma maneira não tão crua quanto no livro, mas ainda um tanto chocante e inesperada.
O desligamento que veremos por todo o filme da responsabilidade dos pais, aqui sendo enfatizado na figura da mãe, em relação a alimentar e educar seus filhos nos faz pensar no que de bom essa família traz às suas crianças. É quando o paradoxo do amor de Rex por sua segunda filha toma conta da trama. Não é que não exista amor. Os irmãos se amam. Os pais têm seus vínculos sim com seus filhos. O que falta é algo que ao entrar na adolescência a pequena Jeannette começa a questionar, como quando seu pai sai para comprar comida, que as crianças não veem há três dias: Rex desaparece por horas, voltando pra casa bêbado e sem nada para pôr na mesa.
A narrativa vai e volta, somos levados ao passado e trazidos ao presente onde Jeannette tem um namorado ‘almofadinha’, David (Max Greenfield). Lori (Sarah Snook), a irmã mais velha, fugiu de casa para estudar, assim como a própria Jeannette também o fez. Na verdade, todos os quatro filhos do casal Walls fugiram do estigma disfuncional de seus pais, mas não os abandonou – ainda que possa parecer numa das cenas iniciais quando Rex reconhece Jeannette dentro de um táxi nas ruas de Nova Iorque (você provavelmente irá engolir em seco aqui). Jeannette irá passar por momentos que precisará agir com o coração, como muitos de nós fazemos quando o assunto é família. O conforto do filme vem em forma de uma trilha sonora recheada por canções countries, que parecem acalentar o coração, como quando Darla Hawn nos presenteia com uma bela versão de Don’t Fence Me In, de Cole Porter.
Um filme cruel, mas sincero e verdadeiro, trazendo pequenas surpresas que nos mostram que afinal de contas, o amor sempre é um sentimento motivador de coisas boas, por mais que não pareça estar ali. E uma recomendação se o assunto família é uma ferida aberta para você: leve muitos lenços de papel ao cinema.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: O Castelo de vidro
Título Original: The Glass Castle
Diretor: Destin Daniel Cretton
Data de Lançamento no Brasil: 24 de agosto de 2017

Cristiano Santos
4.5/5.0

Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi Cristiano
    Parece ser um filme forte, acho q no momento n tenho estrutura p ele

    Bjooos
    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

    • Hehehe, sim, Fernanda, é preciso um pouco de força para assistir esse drama ;)
      Obrigado pelo comentário!
      bjo

  • Oi, Cris. Eu costumo evitar filmes assim porque minha revolta é muito grande quando termino de assistir a eles. Não conhecia o livro mas li recentemente um livro onde os pais da menina eram completamente retardados, não sabiam cuidar da filha de 17 anos e era praticamente que cuidava deles. Um sentimento de negligência enorme me deixou furiosa com eles. Não sei se assistia justamente por isso, mas 4,5 é uma nota muito boa para o filme e talvez eu pensa a respeito.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com

    • Hehehehe
      Oi Miriã! Fico feliz em saber que literatura e cinema te tocam dessa forma, pois pra mim é exatamente assim que tem que ser :)
      Mas acho necessário termos esses momentos, sabia? Precisamos sempre aprender a não fazer coisas dessas formas, que nos revoltam, e lutarmos como possível para evitá-las e fazerem-nas desaparecer. Sei que é meio utópico da minha parte pensar assim, mas eu acredito na possibilidade da arte mudar o mundo ;)
      bjo

  • AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH, que coisa linda!
    Me indicaram esse filme ONTEM, que coincidência!
    Que bom ver que você indica, fico mais empolgada!

    Beijinhos :*
    Sankas Books

  • Oi
    parece ser um ótimo filme, desde que vi o trailer fiquei curiosa e sua reviw só confirma o que eu penso desdo começo, espero ter a oportunidade de assistir ele, uma história que a familia parece passar por altos e baixos, adoro ler seus postes sobre os lançamentos de filme.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

  • Oi Cristiano.
    Uma ótima e esclarecedora resenha. Eu não conhecia o filme ainda, e achei a trama interessante. Vou anotar sua dica, e se tiver oportunidade irei assistir.
    Doces Letras

  • Eu que não gosto de filmes acabo pegando dicas ótimas aqui e fico com vontade de assistir.
    Não tinha ouvido falar deste filme, mas parece ser tão realista, tão profundo que é instigante. Vou tentar assistí-lo.
    Mais uma vez, a resenha ficou perfeita.
    Magia é Sonhar

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