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Fragmentados [Resenha Literária]

Não tenho mais paciência para distopias! Foi exatamente o que pensei quando peguei Fragmentados para ler. Algumas pessoas se cansam de romances, eu me cansei de distopias, ou ao menos achava que estava cansada, até embarcar na obra de Neal Shusterman.
O que mais me chamou atenção no livro foi realmente o enredo, um mundo onde pais dão seus filhos problemáticos para serem fragmentados, todas as partes do corpo é aproveitada em transplantes, toda parte mesmo, é mais do que ser fragmentado, é ser esquartejado e tudo se aproveita! Claro que a gente só tem uma ideia melhor do que acontece com esses adolescentes quase no fim do livro, quando temos a narrativa de um fragmentário sendo executado.
Temos três narradores principais: Connor, Risa e Lev. Connor é evidentemente o protagonista principal, é um garoto que foge antes de chegar no chamado campo de colheita e leva com ele na fuga Risa e Lev. Risa é uma garota abandonada que mora numa instituição do estado, é uma boa adolescente e muito boa no piano, mas não foi o suficiente para se livrar da fragmentação e Lev é a princípio o oposto de Connor. Ele quer ser fragmentado, já que passou a vida toda sendo preparado como dízimo pelos pais. Lev a princípio não quer fugir, mas acaba se envolvendo na fuga de Connor que também arrasta Risa e por mais que seja a meu ver um dos personagens menos simpáticos, Lev é sem dúvida um dos mais importantes e o que mais se transforma ao longo da narrativa.

Connor é o típico herói de livros do gênero, não quer ser um herói, mas acaba sendo. Persistente e um ótimo lutador, o protagonista ganha simpatia dos outros adolescentes, quando ao encontrar ajuda é levado, juntamente com Risa, a um lugar chamado Cemitério. Lá ele precisa lidar com Rolland, um adolescente manipulador que enxerga em Connor um rival para sua tentativa de liderança. Inevitavelmente, Connor e Risa acabam se envolvendo e confesso que torci para o casal. Se o protagonista representa a força, Risa representa a inteligência, tanto que se torna uma quase médica no lugar.
O livro todo é narrado por diversos pontos de vista o que me agradou bastante, pois me fez entender melhor o mundo criador pelo autor. Saber os pensamentos de vários personagens também me fez compreender melhor o sentimento de todos e quando menos percebi estava completamente envolvida na trama.
Várias questões importantes são abordadas: a questão da alma, a indisciplina, a ditadura, a inercia da sociedade, religião, política. Enfim, é uma trama riquíssima. Toda estrutura governamental criada por Neal Shusterman por mais irreal que possa parecer em um primeiro momento, se torna completamente verissímil ao longo da narrativa.
O enredo é completamente repleto de cenas de ação e Connor não é um protagonista “mimizento”, o que também me agradou bastante. Aliás, nenhum dos três é. Lev talvez seja o mais complexo de todos por ir aos extremos, mas Risa me agradou bastante por toda sua esperteza.
Também gostaria de destacar toda a história que envolve o Almirante e a lenda dos pais que fragmentaram seu filho e se arrependeram. Juntar os pedaços do filho me parece assustador, um tanto Frankenstein também, mas no final das contas fez todo o sentido.
Fragmentados me surpreendeu positivamente, me fez refletir até que ponto a medicina pode ir e em nenhum momento me senti em mais uma distopia clichê. Pelo contrário, embora Connor possa ser um personagem comum, o autor soube muito bem trabalhar toda a história sem ser cansativo, a cada fim de um capítulo eu queria saber mais. É claro que termina com um excelente gancho para a continuação, Desintegrados, mas o fim até que me pareceu de certa forma conclusivo.

FICHA TÉCNICA
Título: Fragmentados #1
Autor: Neal Shusterman
Onde Comprar: Amazon
Michele Lima
Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi, Mi. Eu comprei o livro, acredita? Até hoje tá lá bonitinho em casa e eu ainda não li, porque como sabe, eu detesto distopias. Já vi muitas resenhas negativas dessa obra, o que pioram minha opinião sobre ler ou não, mas agora fiquei com mais vontade.
    Tem um filme que assisti há um tempo que mostrava crianças em um orfanato que nasciam somente para virarem doadores de órgãos no futuro. Ou seja, eles doavam no máximo uns três órgãos e morriam, nasceram somente para isso, e em meio a isso, tem um romance. Não sei se você já assistiu, já que é a louca dos filmes, mas eu chorei horrores com essa história, porque não acreditava tamanha crueldade em fazer crianças somente para ajudar outras pessoas, sem terem vida. É complicado e acho que existem muitas opiniões a respeito, mas Fragmentados é exatamente isso.
    Beijo!
    Leitora Encantada

  • Olá, Michele.
    Esse livro até assusta né? Porque é uma coisa que pode até acontecer a qualquer momento. E já até acontece com alguns órgãos. Eu amei esse livro e meu favorito foi o Lev. Pena que a continuação achei bem maçante até a metade mais ou menos. Espero que curta o segundo.

    Prefácio

  • Oi Mi. Como vai?
    Eu recebi este livro de parceria, mas na época não quis ler e passe para uma colaboradora. Ela adorou o livro e deve estar ansiosa pela continuação que foi lançada há pouco tempo. Confesso que não sou fã de distopias, mas no caso deste livro, tenho um certo arrependimento de não ter lido.
    Bjus
    Doces Letras

  • Oi
    que bom que gostou e foi uma leitura positiva, eu quero ler esse livro pois achei o tema dessa distopia tão diferente e interessante ao mesmo tempo, que só de ler sinopse e resenhas eu fico revoltada com o que faziam com esses jovens, eles simplesmente os descartavam.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

  • Mi eu pensei da mesma forma e fui surpreendida por essa distopia que me levou a refletir de como o ser humano é vulneráveis a decisões impostas pelo poder.
    Adorei sua resenha.
    Beijos

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