Chego no coquetel de lançamento procurando pela assessoria de imprensa, algumas pessoas estão na correria, algo na bilheteria não saiu como combinado e elas estão tentando resolver, alguns minutos apenas antes de iniciar a sessão de apresentação da série
Buscando Buskers – um teaser de 25 minutos com momentos da primeira temporada (que estreia
nesta quinta-feira, 5, no canal Sony da sua TV a cabo) – e eu estou feito o
Vincent Vega olhando pra lá e para cá sem saber se devo subir direto, passar na bilheteria ou procurar a assessora; de repente irrompe de trás da moça da organização, que também estava perdida, um senhor simpático, com seus cabelos brancos, óculos e uma cara de tiozinho bonachão e já logo me abraça, me cumprimenta e me leva até a sala de exibição, acabando com todo aquele segundo de dúvida e confusão (e me gerando uma outra: se ele não estaria me confundindo com alguém). O divino interventor se apresenta como ninguém menos que o “diretor”; tratava-se de
Edu Felistoque, e ali eu já entendi tudo.
Ser recebido na porta pelo diretor do objeto que está sendo lançado é incomum, ainda mais pra um desconhecido como eu, mas o que Edu deixaria claro logo em seguida nos mais ou menos 8 minutos de conversa que teria conosco antes da exibição, aquele não é qualquer diretor. Já instantaneamente cresceu em mim um respeito pela sua humildade e urbanidade, e uma desconfiança de que aquele ali só poderia ser um profissional independente, forjado nas agruras e nos dramas cujos só quem tenta fazer cinema (e audiovisual) de forma autônoma no Brasil conhece, mas com aquele acabamento de sabedoria, praticidade e generosidade solidificado e estampado no caráter – típico de vencedores persistentes e solícitos. À frente de uma produtora há mais de 25 anos, Felistoque e sua
Felistoque Filmes sobrevivem com as próprias pernas fazendo seus projetos para cinema e TV e tirando um sustento também com publicidade (a realidade de todo cineasta independente brasileiro que não quer ou não pode ficar dependendo apenas de editais públicos de fomento).
Imbuído deste espírito positivo assisti ao teaser da série, mas juro que não conclui pela sua boa qualidade só por causa deste fato; também juro que a sequência de pocket-shows especial com vários buskers durante um coquetel muito bem servido não me influenciou! Pode-se dizer que algo bom está por vir, e com certeza, ansioso, estarei lá, no dia 5, a postos em frente à TV no canal Sony, às 18h30, preparado para assistir a estreia de Buskers, que já me chamou muito a atenção, primeiro pelo nome, depois pelo tema.
Busker é a alcunha que se dá àqueles músicos de rua; sim, desses que você vê todos os dias na avenida paulista (numa cidade onde prefeito já mandou prendê-los como se fossem bandidos – um que começa com “K” e acaba com “assab”). Ali, perceptíveis e invisíveis ao mesmo tempo, fazendo sua arte e esbanjando talento onde ninguém para pra olhar, mas ao mesmo tempo em que sempre tem um grupo de atentos ouvintes admirando; como contou o próprio Edu, um dia ele resolveu parar pra assistir também, “tirou os fones de ouvido”, e percebeu então a qualidade sonora e autoral desses artistas desconhecidos – e de quebra nasceu a ideia de fazer esta série.
As histórias são contadas com uma qualidade documental dinâmica, parecida com a da ótima série O Mundo Segundo os Brasileiros – parceria da Band com a Cuatro Cabezas (hoje pode ser encontrada completa na Netflix). Não há apresentadores ou narradores, e sim uma inteligente intercalação de imagens: cenas da vida pessoal dos músicos, com reflexões e ideias contadas diretamente para a câmera, e da sua vida profissional, com momentos da arte e do que eles sabem fazer de melhor. Uma edição dinâmica traz sensibilidade às histórias e uma cara cinematográfica, fazendo 20 minutos parecerem uma hora e provocando também no espectador reflexões importantes, um momento de prazer ao viajar nas histórias desses anônimos, agora empoderados por uma câmera e um microfone. Histórias anônimas essas que jamais chegariam até nós se não fosse por iniciativas como a desta série (numa rápida pesquisa no google descobri que nos EUA já existem até festivais de música que agregam só buskers).
Pelo teaser foi possível perceber que se trata de uma série muito necessária e de criatividade e histórias inesgotáveis, com combustível pra temporadas a perder de vista (afinal, há uma infinidade de músicos de rua só em sampa). A série tem potencial para fazer refletir sobre os pontos de fuga da cada vez mais opressiva vida na sociedade capitalista e num mundo do trabalho onde quase não há saídas e lazer, onde somos instados a constituir uma vida dentro de padrões sociais impostos, mediante pressão e violência (de Estado muitas vezes, como alguns músicos sentiram na pele). Também é uma série que pode ensinar a valorizar e admirar esses profissionais que estão ali na rua, do lado do prédio onde você trabalha, e por vezes alegram por 10 minutos o seu horário de almoço de um dia cansado – fazendo do escape deles também o nosso momento de escape, num belo ato de solidariedade e harmonia que só a música (e a arte) pode proporcionar.
Registros importantes das vozes e memórias de artistas em sua maioria ainda novos (o que faz do registro também tempestivo), buscando um modo de vida alternativo e autônomo, baseado somente no ato de respirar e viver a música. Em tempos de The Voice e genéricos, é revigorante poder ver na tela da TV que para ser músico e fazer música você não depende de quatro caga-regras metidos a entendedores que selecionam se você merece ou não ser um “ídolo” num programa que opera com a exploração escancarada dos seus sonhos e suas emoções. Buskers dá um vislumbre que ser artista não é ser fabricado e imposto no gosto popular através de um programa sensacionalista; aqui temos a dimensão real da coisa e muito mais próxima do coração de cada um de nós que já teve algum dia a vontade idílica de pegar um violão, sentar num banquinho numa esquina da cidade e desandar a tocar sem compromisso.
O grande fio condutor comum a todas essas histórias sem dúvida é uma necessidade de saídas de emergência que essas pessoas buscaram e encontraram para escapar da sociedade padronizada e dos imperativos categóricos que este modelo impõe constantemente a todos nós. Intervenções e reflexões sinceras de artistas já veteranos na cena da rua como Emerson Pinzindin, Lucia Zorzi, Thiago Martins Branduliz, Diego Goldas, Carolina Zingler e a banda Picanha de Chernobill, demonstram a luta diária (e uma vida de luta que a maioria deles escolheu) por um espaço de sobrevivência, humanismo e questionamento do poder absoluto do Capital num projeto autoritário de cidade.
O gosto que fica ao final é que a equipe busque muito mais “buskers” pelas ruas de sampa (e não só de sampa!) em temporadas futuras, porque sem dúvida alguma essa temporada que nem estreou ainda (e já considero #pakas) será interessante, e tendo o devido retorno e divulgação, inspirará muitas outras.
Buskers contará nessa primeira temporada com 12 episódios de 24 minutos cada, na faixa horária das 18h30 no canal Sony, ainda sem horários de reprise definidos, mas fique ligado na grade da sua TV a cabo porque provavelmente terá sim reprises. Para se preparar, pode separar uns 3 minutos para ler sobre o que lhe espera no
site oficial da série, simples e direto como
Edu Felistoque, e bastante elucidativo.
Gui Augusto
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Gui, eu devo dizer que essa é boa dica... Mostrar um pouco de arte e cultura e música e buskers para o mundo... Mas não sei se vou acabar assistindo tanto pelo horário quanto pelo interesse, de fato, mas é sempre bom ver dica e fico fliz que tenha curtido pelo teaser :D
Hey Mi!!
Verdade? Mas voce foi com muita expectativa ao filme? Ou não?
A Bela e a fera com certeza pe um dos mais esperados para o próximo
ano <3
O LP arrasa nas análises de filme, não é verdade? <3
obaa e eu preciso mesmo é VER hehehe
beijocas!
Pâm - http://www.interruptedreamer.com
Que dica mais maravilhosa! Já vou correr atrás dos parentes com tv a cabo heuheueheuehu
A sua experiencia deve ter sido muito boa, considerando o quanto o cara é acessível! Considerando a proposta da série achei bem minha cara, adoro tudo que envolva música e o cenário paulistano.
https://deiumjeito.blogspot.com.br/
Oi, Gui!
Que fofo o diretor! Deve ser sido uma situação incrível e inimaginável ser recebido por ele.
Eu não sabia sobre essa série, e claramente estou curioso. Parece ser interessante, tocante e inteligente. Dica mais que anotada.
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
http://www.leandro-de-lira.blogspot.com
Oiii Gui!
Que experiência maravilhosa, deve ter sido extraordinário estar ali.
Não conhecia a série, tem uma pinta bem interessante.
Beijos
resenhaatual.blogspot.com