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O cambista do cais do porto (Resenha Literária)

O que me atraiu para O cambista do cais do porto, de J. C. de Toledo Húngaro, foi a proposta de narrar a vida de um imigrante. Diferente dos que povoaram boa parte do Rio Grande do Sul, Jacobo Abrahann Marttuz chegou ao Brasil apenas na década de 40 e tinha por objetivo chegar a Montevidéu para trabalhar com um tio, seu único parente vivo. Mas, pouco depois do meio do caminho, estava o Rio de Janeiro. Não pode resistir a desembarcar e ver de perto a agitação da Praça Mauá, além de, claro, tomar o famoso café brasileiro. Desembarcou sem a mala e jamais voltou a vê-la já que decidiu que o Rio seria o seu novo lar. 

Marttuz fez do cais do porto sua casa e, das pessoas que ganhavam a vida ali, sua família. Acreditou nas suas ideias, confiou naquele que primeiro lhe estendeu a mão e fez fortuna através do câmbio de moedas. Foi um visionário. Casou-se e teve filhos brasileiros. Foi um negociante de primeira categoria e protegeu quem estava próximo dele. O cambista do cais do porto conta uma história de sucesso profissional com pitadas de amor e amizade no lado B da cidade maravilhosa, digamos assim, longe da boêmia da MPB e próximo dos imigrantes pobres que tentavam sobreviver em terras brasileiras.
Os fatores que incomodaram minha leitura têm muito mais a ver com falhas de revisão do que com a história em si. Trechos repetitivos e erros ortográficos nos afastam em alguns momentos. Húngaro tem ótima capacidade de descrever detalhes, cena-a-cena, porém a frequência de certas informações e erros fazem o leitor dar dois passos pra trás e se afastar da situação que o envolvia. Outro fator que me incomodou (em menor grau) foi o súbito uso de palavrões em alguns momentos. Ok, eu entendo que eles expressem um humor específico, porém eles não me pareceram casar com a narrativa feita até ali, nem mesmo com a própria maneira do personagem ser apresentado. Poderiam subtrair esses palavrões sem qualquer prejuízo ao contexto, creio eu.
O autor raramente cita datas no decorrer da história e só notamos o passar do tempo com alguns fatores, como o crescimento dos filhos, e admito que senti falta disso, tal como senti a ausência de momentos históricos citados de maneira mais clara (sou uma pessoa apegada ao calendário), mas ao fim do livro percebi tudo isso de maneira diferente. ‘Seu’ Marttuz não se apega ao mundo que não tem relação direta com o seu dia a dia. Nomes importantes são anotados em suas cadernetas, nada mais. O personagem de Húngaro é apegado à sua rotina e, sendo assim, só se envolve com o que diz respeito a ela. Acredito, então, que o desapego histórico de Húngaro tenha tido exclusivamente o objetivo de mostrar o mundo segundo seu personagem e acho isso uma ótima sacada do autor.
O cambista do cais do porto é um livro interessante de se ler, especialmente por mostrar a cultura judaica e imigrante no Rio de Janeiro a partir da década de 40. Fora as falhas de revisão (compreensíveis quando se fala em autor independente, o que acredito ser o caso), o livro traz uma história agradável de se ler, com uma perspectiva diferente do mundo.
FICHA TÉCNICA

Título: O cambista do cais do porto
Autor: J. C. de Toledo Húngaro
Editora: Kwabb-Fortec do Brasil
Páginas: 350
Ano: 2016
Ana Seerig
Na Nossa Estante

View Comments

  • Ou seja, esse é um livro que com uma segunda revisão tende a ficar muito bom! Achei a temática dele interessante, pois o lado B de toda cidade e de toda cena sempre me interessa.

  • Oi Ana, tudo bem?
    Poxa, que pena que a revisão deixou a desejar. Realmente, quando os erros são frequentes, isso acaba irritando e prejudicando a leitura. O tema do livro não me interessa muito, mas curti a resenha!
    Feliz Ano Novo! ;) Que 2017 seja incrível e possamos seguir nos visitando nos próximo ano! o/
    Beijos,

    Priscilla
    Infinitas Vidas

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