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Justiça [Resenha da série]

*o texto abaixo contém spoilers
Depois de anos assistindo seriados americanos resolvi dar uma chance ao trabalho brasileiro e acompanhar Justiça. Prometeram e mantiveram a palavra exibindo um formato inédito com histórias chocantes e comportamentos polêmicos, uma trilha sonora impecável que por muitas vezes parecia ser cantada pela alma dos personagens e com atuações primorosas! Cada ator escolhido cumpriu não só sua missão como conferiu ao seu personagem uma identidade própria e quase real, quase por ser ficção, pequeno detalhe que não fez menor a diferença na trama.
Nem tudo foi perfeição. Algumas cenas repetidas, porque todas as histórias se encontravam de alguma forma, em algum tempo, em alguma esquina ou com algum personagem, foram monótonas e só encheram espaço, um espaço que não precisava ter existido. Foram poucas cenas, mas estavam lá. A série também andou em terreno minado, a própria autora colocou as bombas e elas explodiam quando a cena chocava tanto que o público achava impossível uma atitude qualquer do personagem, mas com ou sem bombas o público continuou fiel e quis acompanhar e saber o final da série, porque quem quer ver programa de adulto tem que deixar a imaturidade de lado e se jogar na crueldade.
Toda segunda-feira acompanhamos Elisa (Debora Bloch) que teve a sua filha Isabela (Marina Ruy Barbosa) assassinada pelo namorado Vicente (Jesuíta Barbosa) quando estava com um ex-namorado no chuveiro. Ele chega, vê, atira e Elisa ainda corre tentando evitar a tragédia. Ele é preso por sete anos e no dia em que é solto, Elisa está esperando por ele para matá-lo, mas quando ela vê que ele tem uma filha pequena chamada Isabela e uma esposa (Regina, atriz Camila Márdila) que vai buscá-lo, ela desiste e passa a se relacionar com Vicente na faculdade onde ela é professora e ele estudante.Os dois se envolvem sexualmente. A mãe dorme com o assassino da filha. E esta foi a grande polêmica.

Considerando que Elisa passou sete anos treinando para matar Vicente, mantendo o quarto da filha do jeito que ela deixou, inclusive lavando as roupas, deixa claro o quanto esta mãe estava atormentada e ainda ferida com a morte da filha. Não sei se existe isso de fechar a ferida de uma mãe que perde um filho, particularmente acredito ser impossível.

Como eu posso dizer que uma mãe jamais dormiria com o homem que matou sua filha se todos os dias nós nos deparamos com histórias completamente bizarras na manchete dos principais jornais? Ela sabia que estava errado, ela reconheceu o erro, mas ela não conseguiu evitar o que ela achava que a levava para mais perto da filha. A justiça dela foi feita quando os dois sofrem um acidente de carro e Elisa deixa Vicente morrer ao não chamar imediatamente por socorro.

Você chamaria socorro?
A história de Elisa encerra com a viúva de Vicente treinando tiro ao alvo, ela deixou bem claro que achava que Elisa tinha participação na morte do marido.
Nas terças-feiras acompanhamos a história de Fátima (Adriana Esteves), seu marido Waldir (Ângela Antônio) e seus filhos Jesus e Mayara (Julia Dalavia), simples, amorosos, unidos encontram problemas quando um policial, Douglas (Enrique Diaz), passa a morar na casa vizinha e o muro quebrado dá acesso à casa de Fátima e o cachorro do policial persegue, mata as galinhas de Fátima até que um dia ataca o filho, o machuca e a mãe não tem dúvidas quando atira no cachorro.
Por vingança, a namorada de Douglas, Kellen (Leandra Leal), o faz enterrar drogas no quintal de Fátima e ela fica presa por sete anos, Mayara se torna Susy uma prostituta e Jesus um menino de rua. O marido é morto quando há uma manifestação na empresa de ônibus falida do pai de Vicente. Fátima sai da cadeia, consegue achar os filhos e quer refazer a família, aos poucos ela se torna amiga do policial e até lhe dá de presente um filhote de cachorro.
O final de Fátima foi doce, ela encontra o amor de novo através de Firmino (Júlio Andrade), que é irmão do estuprador de outra história da série, reúne novamente a família e por sorte o vizinho policial volta a namorar Kellen, mas eles vão embora com o dinheiro que ela roubou dos personagens Celso e Maurício.
A vingança neste núcleo foi de Susy ao separar Kellen do namorado Celso, mas eu encontro polêmica também quando Fátima mata o cachorro que não tem culpa de ter sido criado para agredir, mas que mãe conseguiria segurar o gatilho e não apertar com um animal ferindo seu filho? Eu adoro cachorro, tenho dois recolhidos das ruas, mas não sei que atitude teria.
Quartas-feiras tem futebol e o sofrimento é outro. Quinta-Feira era dia de conhecer a história de Rose (Jéssica Ellen) e Débora (Luisa Arraes). Rose é filha da empregada na casa de Débora, mas foram criadas juntas e são muito amigas, consideram-se irmãs. Rose passa no vestibular para Jornalismo e elas vão comemorar na praia. Rose vai até a barraca de cocos e outras coisas de Celso e pega algumas “balas” para ela e a amiga, a polícia chega, mas apenas Rose é revistada por ser negra e Débora não fala nada, vai embora e Rose fica presa por sete anos.
Quando Rose sai, Débora está casada com Marcelo, mas na justiça divina, se é que isso é justiça, se é que tem como comparar ou castigar o silêncio, Débora não consegue ser feliz porque foi vítima de estupro e quer achar o homem que a machucou tanto e que Marcelo (Igor Angelkorte) quer simplesmente esquecer! Com ajuda de Celso (Vladimir Brichta), Débora consegue pegar o estuprador e em um acesso de fúria o mata a pauladas. Rose termina sua história grávida e feliz ao lado de Celso, enquanto a amiga foge sozinha e desorientada, envolta apenas em dor e abandonando toda a vida que podia ter ao lado de Marcelo, que era dedicada a adotar uma criança, já que ela não podia mais engravidar devido a sequelas do estupro.
Eu te pergunto, Débora deveria ser condenada por matar o homem que a estuprou? Sinceramente, eu não acho que eu tenho capacidade de matar, mas não consigo julgar e condenar Débora. E você?

Nas Sextas-Feiras nós vimos Maurício (Cauã Reymond) que viu sua mulher ser atropelada por Antenor, na época sócio que rouba o pai de Vicente e que está fugindo quando acontece o acidente. Maurício atende ao pedido desesperado da esposa (Marjorie Estiano) que era bailarina e está tetraplégica e comete eutanásia com ela e fica preso por sete anos. Durante os anos na cadeia ele faz a contabilidade de pessoas influentes e conhecidas de Celso e guarda uma fortuna que é a ponte para que ele chegue a Antenor (Antonio Calloni) que agora é candidato ao Governo, tem um filho irresponsável e uma mulher alcoólatra. Antenor é corrupto, cafajeste, abusivo com o filho e com a mulher. Político e pessoa imoral, ele se envolve com Maurício que é amigo de Celso e dono da Sauna, uma casa de prostituição onde Antenor se relaciona com a filha de Fátima. Maurício usa Vânia (Drica Moraes) e o desprezo que o marido sente por ela, para atingir Agenor e vingar a morte de Beatriz. Vânia permite que ele grave um vídeo onde ela conta sobre como Antenor é violento com ela, negligente com o filho e corrupto.
Na vingança de Maurício ele acaba com a vida de Antenor que é preso acusado de matar Vânia, crime que ele não cometeu e é traído pelo filho que faz uma delação premiada e ingressa na política. E Maurício vai embora, mas na estrada encontra Débora e dá carona a ela.
A vingança de Maurício valeu a pena? Não sei.
Eu achei a série fantástica, mas eu queria um final mais impactante, onde todos os personagens se encontrassem para explodir uma bomba juntos.
A série foi escrita por Manuela Dias e teve direção artística de José Luiz Villamarim.
Marise Ferreira
Na Nossa Estante

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  • falei de justiça tb. eu adorei esses encontros e reencontros em cada trama. até senti falta no final da mesma sincronia. não acho bizarro a mãe dormir com o assassino da filha. acho que era uma forma simbólica de na respiração dele tentar encontrar um pouco da filha e vice-versa. é bem complexa a questão da estuprada matando seu estuprador. vingança. mas será justiça? eu acho que o maurício se perdeu de si mesmo planejando a vingança. virou bandido. trabalhou para bandidos na cadeia ganhando dinheiro ilícito. montou uma sauna q explorava mulheres e meninas. e ainda matou a vânia. ele sabia que a vânia corria perigo e largou-a a própria sorte. usou-a o quanto pode. foi mal, muito mal. imagino a maldade q faria com a moça q dá carona. pro maurício parecia q só a mulher morta dele q prestava. eu amei a série tb. beijos, pedrita

    • Pedrita, você analisou bem o Maurício, ele virou um grande bandido! Eu não tinha pensado nisso.
      Obrigada por comentar.

  • Eu acompanhei a série mais ou menos, então os momentos no quais o roteiro repetia cenas para mim foram bons pq me ajudavam a reencontrar o fio da meada :) Concordo com você que o final podia ser mais impactante apesar da série ter sido muito boa, com uma pegada humana ancorada na realidade ou melhor naquele aspecto da realidade que existe e parece mentira, mas existe e incomoda e está lá latejando na alma das pessoas que percebem. Justiça é daquelas série que se fosse lançada em box eu ia querer ter na minha estante!

    Lindo post Marise!

    • É complicado mesmo assistir pela TV, mas assinante da Globo vi antes pelo PC ou TV com internet, eu precisei fazer isso quando perdi episódios.
      Obrigada por comentar.

  • Oi Marise, tudo bem?
    Ouvi alguns comentários sobre a série, mas como praticamente não assisto mais TV aberta, acabei me desligando e não assisti a nenhum episódio. Que bom que você curtiu e que a produção e os atores tenham sido satisfatórios. Ótima post.
    Bjus
    Lia Christo
    http://www.docesletras.com.br

  • Oi Marise, tudo bem?
    Não assisti à série, mas li muito a respeito porque ficava curiosa sobre os episódios hahaha! Vi uma crítica bem forte ao fato de terem trocado de protagonista na história da Rose (ela era protagonista e depois virou a Débora), justo a única personagem negra... Mas fora esses erros mencionados, acho que a Globo inovou. :)
    Beijos,

    Priscilla
    Infinitas Vidas

    • Priscila eu li sobre isso também, mas eu acho que foi o modo como a autora tentou mostrar a justiça, a negra foi presa e não era culpada sozinha, não foi defendida pela branca, mas foi a Negra que ficou feliz realmente, que encontrou um amor sincero que teve aquilo que a amiga queria muito, que era ficar grávida. Acho que deviam focar nisso.
      Obrigada por comentar.

  • Oi
    eu gostei dessa série também e achei legal que os episódios se conectavam, mas eu também esperava um final mais impactante, principalmente no episodio de Vicente acabei nem gostando muito. Foi bom porque é um passo maior que andam dando uma chance a esse formato.

    momentocrivelli.blogspot.com

  • olá tudo bem?

    assisti Justiça do começo ao fim, e a única história de que não gostei
    foi a do Vicente e Eliza, Sei que acontece coisas bizarras e tudo mais.
    Não achei pega , pra entender por que ela foi pra cama com ele, justificar
    que é pra ter mais perto a filha, não desceu. Mas enfim, sua resenha foi ótima e eu
    amei a série. achei bem construída, principalmente por ser brasileira. Faz resenha do Supermax.
    quero ver no que vai dar aquele rialyt. beijos e sucesso

    Taynara Mello | Indicar Livros
    http://www.indicarlivros.com

    • Taynara, vou ficar te devendo a Supermax só porque tem Tancinha e Tarama atuando em papéis tão diferentes, mas na mesma emissora e ao mesmo tempo. Achei que podiam convidar atrizes diferentes, mas não gostei desta dose dupla, então, de birra, não vou assistir, rsrsrs. Sorry!
      Obrigada por comentar.

  • Eu não acompanhei essa série, mas ela me aparentava ser bem interessante, e agora que li a sua resenha pude ter certeza disso! Apesar de algumas decisões estranhas tomadas na história, achei que ela foi muito bem escrita, as histórias acabam se relacionando de algum modo e eu adoro histórias nesse estilo. Além disso, ainda teve a participação de atores incríveis, que a deixaram ainda melhor. Se fosse um livro, eu super gostaria de comprá-lo, e seria record de vendas, com certeza. Vou tentar assistí-lo depois :D

    Com amor,
    Steph • Não é Berlim

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