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Star Trek: Sem Fronteiras [Resenha do Filme]

*Conferimos a Cabine de Imprensa de Star Trek.


A fase J.J. Abrams de Star Trek traz mais uma peça de seu inventário; e podem estar certos de que está recheada das marcas desse fã assumido desta saga antológica da Cultura Pop: respeito ao cânone, cuidado e carinho ao tratar os originais, e uma condução contida da nova saga. Star Trek: Sem Fronteiras é dirigido por Justin Lin e carrega em sua estética e andamento a influência deste diretor, um queridinho de Hollywood para megaproduções de ação em alta velocidade (responsável pela direção de quatro títulos da infinita sequência Velozes e Furiosos). Talvez pela magnitude financeira do projeto, a obra provavelmente foi ameaçada pelas mãos sujas de dólares de algum executivo, e não se destaca de outras megaproduções Hollywoodianas no quesito narrativa e roteiro. Porém, um dado importante e relevante é que o nerd de carteirinha Simon Pegg, ator inglês que interpreta o atrapalhado Montgomery Scott, nosso simpático engenheiro tripulante da Enterprise, coescreveu o roteiro – o que nos deixa mais aliviados.

Logo de cara somos levados a acompanhar o cotidiano da tripulação, e numa sequência longa, didática e filmada com uma câmera que não para de trabalhar também (tal qual os personagens filmados), entendemos a quantas anda o dia-a-dia dos bravos habitantes da nave espacial mais fodona querida do cosmos. Temos um vislumbre do trabalho que o Capitão James T. Kirk e seus ‘marujos’ tem feito pela unidade dos planetas e dos povos do universo e o quanto a diplomacia e a política tem sido importante para os heróis – e não somente as aventuras à campo. Quando são chamados por um preocupante apelo de uma estrangeira que aborda sozinha e perdida no transporter da Enterprise, são arrastados para um perigo maior do que podiam imaginar e se deparam com o megalomaníaco Krall e a ameaça iminente da violência destruir tudo aquilo que têm tentado construir com a paz, de forma incansável e longa.

O filme é mais um presente de Abrams para os fãs e entre um desenvolvimento manjado e previsível do enredo somos brindados com momentos que justificam este filme como não só apenas mais uma megaprodução. A série tem uma linguagem própria e os três novos Star Trek têm sabido respeitar isso com o distanciamento necessário. Há uma diversidade de homenagens aqui, a começar pela mais importante e mais relevante delas – que provocou a passagem de uma cebolinha cortada na frente da minha cara – que é a lembrança da morte do eterno Sr. Spock, Leonard Nimoy (morto em fevereiro de 2015), que chegou inclusive a participar do primeiro filme desta nova fase (aquela tarimba necessária para abençoar a nova saga que nascia), feita de uma forma muito singela e familiar, pela qual conseguimos nos identificar com a emoção sentida pelo novo Spock, Zachary Quinto – que, aliás, mais uma vez prova que está muito bem no personagem.

Anton Yelchin, o ator russo novato em Hollywood, que faz o curioso e esforçado Pavel Chekov na nova saga – o tripulante de sotaque russo e ar de estagiário – nos deixou em junho de 2016, apenas aos 27 anos, mas também foi lembrado; em um simples, porém arrebatador memorial de duas palavras logo antes dos créditos, aprendemos que o filme todo é dedicado à sua memória, tanto quanto a de Nimoy: “para Anton”. Por fim, não são essas duas as únicas homenagens a mortos ilustres, sobrando referência até a Beastie Boys, que em 2014 foi declarada extinta pelos integrantes remanescentes, em honra à memória de Adam Yauch (o beastie boy morto em 2012 por um câncer); mas em Star Trek: Sem Fronteiras seremos anestesiados por uma vertiginosa cena de luta espacial entre naves ao som de “música clássica”: Sabotage rolará solta no vácuo do universo (sim, aparentemente Sabotage se propaga no vácuo – essa é a gag) bem no clímax do filme. Na falta de palavras melhores para descrever, só posso dizer: é um tesão!

Outra homenagem é às sagas antigas (dentre vários pequenos easter eggs e gags), e quem salvará o dia nessa história não será nossa boa e velha Enterprise, mas uma mais velha ainda que ela (não vou contar, spoiler, vá assistir! – mas adianto que é coisa pra fã deep). As homenagens desde o reboot de 2009 continuam no mesmo formato: sutis, colocadas quase que naturalmente na nova narrativa – e é uma ótima maneira de fazê-lo.

Não só as homenagens e as lembranças são colocadas com cuidado e carinho artesanais no enredo. Questões sociais e políticas mais relevantes e profundas que não podem ser captadas pelo discurso midiático de entretenimento de uma produção blockbuster são mesmo assim inseridas aqui; e funciona. Assim, prepare-se, pois haverá espaço SIM para mulheres badass chutarem bundas e salvarem “mocinhos” indefesos (Zoe Saldana em Uhura, e Sofia Boutella, muito bem como Jaylah); para gay assumido ser mais “macho” que muito machão da história do cinema (o Hikaru Sulu de John Cho, que por sugestão de Simon Pegg é um personagem gay na nova saga, em homenagem ao seu intérprete clássico, George Takei – que, entretanto, parece não ter gostado tanto assim); tem até espaço para um Sr. Spock chorão – sim o implacável e “insensível” vulcano vai quebrar (igual ao mais durão fã) quando souber da notícia sobre o Embaixador Spock (Leonard Nimoy), e vai demonstrar um coração mais molenga do que imaginávamos quando se trata de amor e ciúmes pela tenente Uhura.

O respeito às diversidades e às minorias sociais aponta para uma importante quebra de paradigmas e uma desconstrução de estereótipos e arquétipos que até hoje dominaram o discurso geral do entretenimento de massa: machista, heteronormativo, excludente e branco. Star Trek não é a única nem a primeira grande produção a trabalhar com essa mudança de discurso, mas vamos falar a verdade que é muito legal (tanto quanto ver a Marvel nas HQ’s fazendo isso) ver um ícone da Cultura nerd e pop na vanguarda dessa abertura à multiplicidade de personas e representações em seu cânone (especialmente Star Trek, que desde a origem sempre falou de inclusão e respeito e um mundo mais harmônico e sociável).

A própria tripulação da Enterprise capitaneada por um competente e líder nato James T. Kirk (de Chris Pine, não memorável no papel, como Patrick Stewart, mas levando com a capacidade esperada) em diversos momentos é uma metáfora para tratar questões tão urgentes no mundo contemporâneo, marcado por uma violência contra o diferente, em especial os imigrantes. A nave é um mundo ideal, uma utopia irrompendo o universo à velocidade de dobra, e em certos diálogos do filme ou na construção de certos personagens percebemos o brado em favor da união entre os povos e a esperança de um mundo (ou um universo) mais inclusivo; lá todos convivem, diferentes povos e culturas conciliados em pé de igualdade e importância. No mundo, estrangeiros e imigrantes são recebidos com violência ou reagem com violência à nova cultura a qual tentam se adaptar, porém na nave do capitão Kirk tem espaço para todos (inclusive, dispondo de tecnologia para permitir o diálogo entre diferentes línguas): da estrangeira que se mostrará hostil, àquela que também os acolherá em seu mundo – e os ajudará a cumprir sua jornada.


O roteiro é simples e bem fechadinho; nada de inovador em termos de narrativa ou produção. Porém, no fim, o filme não vale tanto pela história que teria a contar (todos sabemos que será mais uma de “mocinhos contra vilões”), vale, sim, pelo conjunto da obra. Por levantar bandeiras e discursos polêmicos de maneira corajosa, ainda que bem discreta – não usuais em megaproduções deste tipo; por ser um lisonjeiro e equilibrado serviço para os fãs; e para quem não se sentir afetado por qualquer desses aspectos, então por ser uma excelente e agradável diversão.

OBS: Mais sobre os easter eggs do filme em referência à saga original CLIQUE AQUI



Trailer:



Dados do filme

Título: Star Trek
Título Original: Star Trek Beyond
Diretor: Justin Lin
Ano: 2016



Gui Augusto

Michele Lima

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Michele Lima

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