Jane Eyre [Resenha Literária]

Eu juro que sempre que escuto falarem das irmãs Brontë me dá um certo arrepio, por causa de O morro dos ventos uivantes da Brontë, já que uns amam e outros odeiam! No entanto, Jane Eyre de Charlotte Brontë veio para quebrar todos os meus receios! Em um capítulo eu já me apeguei a protagonista, em cinco eu já senti algumas lágrimas e durante toda a leitura do livro, que é um novelão, eu fui cada vez mais atraída por Jane e as injustiças que ela passa.

O livro começa com a protagonista ainda criança vivendo na casa de sua tia e apanhando constantemente do primo. Como se não bastasse, os criados da casa não gostam dela, porque ela não é rica, nem bonita, vale menos que os próprios criados e a julgam ingrata, afinal, Jane começa a se revoltar pela violência sofrida, se deprime pela falta de carinho e abandono! Sua tia a detesta tanto que a manda para uma escola de caridade.

Já no Instituto Jane consegue se encaixar melhor, tornando-se uma excelente aluna e depois professora. Nesta parte da história Charlotte narra a vida das meninas na escola, a fome, o frio, as doenças, novas injustiças, mas também o carinho e o respeito de educadoras bondosas. Depois que se torna professora e sua antiga mestra se casa, Jane sente que precisa dar um novo rumo a sua vida e começa a trabalhar na casa de Rochester, cuidando de uma menina de oito anos. A protagonista e o rapaz acabam se apaixonando, mas antes de se casarem Jane descobre que seu amado guarda um enorme segredo que muda os rumos dos acontecimentos. Novas reviravoltas acontecem na vida de Jane, fazendo com que a protagonista conheça inclusive parte de sua família que nunca imaginou existir.

Rochester não sabe lidar com a loucura da personagem Bertha e acaba sendo conivente com o que acontece com ela, é um homem amargo, desconfiado, que também questiona a sociedade e o ser humano. É um homem que pode ser considerado naturalmente bom, mas que foi corrompido e que só encontra sua verdadeira redenção com Jane, principalmente no que se refere ao final do livro.

Já a protagonista é uma mulher questionadora, rebelando-se contra as injustiças vividas, inquieta mesmo quando sua vida está boa, encontrando no trabalho e não no casamento uma forma de vida, sendo que sua recusa a ser amante mostra o quanto Jane preza pela sua própria autoestima. E vale lembrar que uma mulher que encontra no trabalho uma modo de ser feliz a faz diferente de muitas protagonistas do século 19, inclusive protagonistas de Jane Austen.

Charlotte faz uma clara defesa da emancipação da mulher, com personagens femininos fortíssimos. Helen, amiga de Jane no instituto, é a representação do conformismo de uma mulher oprimida e Bertha, a histeria de uma mulher que não se encaixa de forma alguma nos padrões estabelecidos e que aparentemente se tornava mais violenta quando a lua estava “vermelho sangue”, ou seja, menstruada. E aqui é importante ressaltar que a menstruação muitas vezes estava associada à loucura das mulheres vitorianas, bem como um maior apetite sexual.

 Jane Eyre é narrado em primeira pessoa, possui a natureza como paisagem que dialoga com toda a introspeção e solidão da protagonista, algo bem comum nos romances vitorianos. Jane não é uma personagem rasa, sendo bastante complexa, melancólica e ao longo da obra vai nos contando toda a sua vida e seus pensamentos, descrevendo muito bem os maus tratos na infância, abordando a hipocrisia religiosa, a suposta bondade da nobreza, o bem e o mal conhecidos pela sociedade, o sagrado e o profano representados pela religião e pelos pecados humanos. E o livro está repleto de simbolismos como a cegueira de Rochester, as representações da natureza, do suposto sobrenatural, os Rivers que significam rio como se eles lavassem a alma de Jane (embora St John me pareça um homem opressor), entre outras coisas.

Charlotte constrói muito bem sua protagonista e apesar de colocar em pauta muitas questões sociais e atualmente consideradas feministas, a autora também valoriza o romance e o amor com um final que vai agradar os mais românticos, apesar de toda a trajetória sofrida por Jane.

Com um enredo que não cansa, cheio de reviravoltas, a autora nos envolve, sendo capaz de romper a barreira que muita gente tem ao pensar em livros clássicos, por acharem de difícil leitura. Não é o caso de Charlotte Brontë, que narra os acontecimentos de forma cronológica, de maneira clara, objetiva. Quando a gente menos espera já lemos todas as páginas com a incrível sensação de ter vivido por completo a história de Jane Eyre e ter presenciado uma narrativa que a cada releitura é possível encontrar novas perspectivas! Vale ressaltar por fim que a edição da Martin Claret é perfeita, a capa é muito bonita, o papel é de boa qualidade e no final há um posfácio da Lillian Cristina Corrêa sobre a sociedade vitoriana que nos ajuda a entender um pouco do contexto em que o livro foi escrito.

 Dados do livro:
Título: Jane Eyre
Autor: Charlotte Brontë
Michele Lima

22 thoughts on “Jane Eyre [Resenha Literária]

  • 29 de julho de 2016 em 20:41
    Permalink

    é muito lindo esse livro. gosto do outro tb. amei a sua edição e o marcador, tenho coleção de marcadores. eu li de uma edição muito antiga, um livro da família, talvez esteja comigo perdido na estante. beijos, pedrita

    Resposta
  • 29 de julho de 2016 em 20:48
    Permalink

    Estou apaixonada pela lindeza que é a capa deste livro! <3
    Li Jane Eyre quando estava no segundo ano no ensino médio, por indicação da bibliotecária. Lembro de não ter conseguido terminar ele na semana que eu tinha e ela ter estendido meu prazo (e deixado eu levar outro livro pra casa secretamente) porque ela disse que a leitura valia muito a pena. E como ela estava certa!
    Jane Eyre é um dos meus livros favoritos, deixando Jane Austen para trás sem sombra de dúvidas. O final do livro é muito bom, a história toda é muito boa, na verdade. E a mensagem de empoderamento e de personagem feminina forte é maravilhosa, e muito maior do que as da Austen, ao meu ver.

    Att.,
    Eduarda Henker
    Queria Estar Lendo

    Resposta
  • 29 de julho de 2016 em 21:31
    Permalink

    Olá!!
    Primeiro: que capa linda é essa? É tão simples, mas é charmosa demais!
    Ainda não li nada do gênero e gostei muito do enredo que você contou. É difícil vermos livros com uma protagonista assim, que sofre, não é a mais bonita e é tremendamente injustiçada, ao invés de ter uma vida perfeita.
    Adorei a resenha.

    Beijão
    Leitora Cretina

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 00:38
    Permalink

    Oi Michele,
    Estou doida para ler clássicos como este.
    Dá até uma certa invejinha por você ter conseguido vencer esse desafio, rs.
    Preciso me dedicar mais, esse livro me atrai muito e eu sempre adio.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 00:43
    Permalink

    Olá.
    Amei a capa, suas fotos e os marcadores.
    Adorei a resenha e quero muito ler, não me lembro de ter lido algo deste gênero.

    http://www.donadegato.com
    Beijos.

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 02:34
    Permalink

    Oi Michele, tudo bem?
    Que resenha belíssima! Eu tenho o livro faz alguns anos. Ganhei de uma amiga. Ainda não li, mas com certeza vou ler um dia. Já assisti a algumas adaptações e gostei muito da forma como a história é conduzida.
    Bjus
    Lia Christo
    http://www.docesletras.com.br

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 05:29
    Permalink

    Oi, Mi

    Essa capa está maravilhosa. Eu nunca li um livro das irmãs Brontë, não por falta de interesse e sim por falta de vergonha na cara! Hahahaha
    Sua resenha ficou bem detalhada, adorei saber que ele é cheiro de reviravoltas, gosto de tramas assim. Gostei também desse ar de melencolia da personagem. A vontade de ler o livro voltou com tudo!

    Beijos
    – Tami
    http://www.meuepilogo.com

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 06:50
    Permalink

    Oi Mi!
    Lindo o livro, e excelente resenha, amei!
    Eu assisti o filme Jane Eyre, e me lembro que gostei bastante. Nunca li nada das irmãs Bronte, mas esse é o que mais tenho vontade de conferir um dia.
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 12:18
    Permalink

    Oi, Mi!
    Antes de começar a ler sua resenha, não queria nem saber desse livro. Quando terminei, fiquei me perguntando como ainda não li esse clássico.
    Beijos
    Balaio de Babados

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 16:14
    Permalink

    Geente, é impressão minha ou tem uma resenha seguida da outra nesse blog?! Isso é ótimo, adoro as resenhas rsr. Ainda nem li esse livro, mas fica sabendo que tenho interesse sim, a capa é linda e a história parece bem envolvente.

    Um beijo!
    http://www.leitorasvorazes.com.br

    Resposta
    • 31 de julho de 2016 em 19:44
      Permalink

      Temos resenhas todos os dias agora hehehehhehe espero que vc possa ler em breve o livro é lindo <3

      Bjs, Mi

      Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 18:04
    Permalink

    Oie Mi!
    Sensacional essa resenha, hein? Eu também ouço muito sobre as irmãs Brontë, mas de todas as obras só tinha lido O Morro dos Ventos Uivantes (que a propósito sou apaixonada, me provoca emoções que nem sei explicar de tão intensas). Jane Eyre também sempre foi um título muito comentado, mas nunca tive oportunidade de ler; Gostei muito de saber que se trata de um romance tão bem estruturado e distante da suposta monotonia dos clássicos. Adorei também as fotos e os marcadores, um sonho de consumo! rs

    Um beijo!
    Débora
    http://amorlivronico.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 18:46
    Permalink

    OMG CHARLOTTE <3 AMO DEMAIS ESSA AUTORA E JANE AUSTE TBM. Tanto que no titulo eu li Jane austen e Jane eyre kkkk daquelas super viciadas haha Não li esse livro da autora, mas ja coloquei na lista de desejados!
    http://b-uscandosonhos.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 19:31
    Permalink

    Oi
    tenho os mesmos temores por conta de o morro dos ventos uivantes , que bom que gostou desse livro a protagonista parece que passa por várias situações, mas não deixa de ser forte. Nunca tive muito interesse de ler livros dessa autora, mas esse chamou minha atenção.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    Resposta
  • 30 de julho de 2016 em 20:31
    Permalink

    Olá, Michele.
    Também me dá uns calafrios quando ouço o nome hehe. Achei O morro dos ventos uivantes muito chato e sem um pingo de romance na verdade. Sem falar na linguagem difícil. Então fico na dúvida sobre esse. mas essa edição está muito bonita e tenho curiosidade já que vejo todo mundo falar tão bem hehe.

    Blog Prefácio

    Resposta
    • 31 de julho de 2016 em 19:45
      Permalink

      Pode ler esse tranquila Sil, a linguagem é bem acessível!!

      Bjs, Mi

      Resposta
  • 31 de julho de 2016 em 00:03
    Permalink

    Oi Michele!
    Uma primorosa resenha e como amante dos livros clássicos fiquei encantada em saber sobre Jane Eyre. Já está na minha lista de leitura e sinto que vou gostar de Charlotte Brontë.

    Resposta
  • 31 de julho de 2016 em 12:46
    Permalink

    Oi Mi, tudo bem? Eu amooooo O Morro dos Ventos Uivantes =D <3
    E por causa dele tenho vontade de ler os livros das outras Bronte, mas ainda não me mexi para isso 🙁
    Um dia leio. Juro! hahhahha
    Sabe que romances de época geralmente me irritam, mas acho que as irmãs constroem histórias diferentes e é isso que me agrada 🙂
    E eu tenho horror a Jane, depois que li OeP e todos dizem que é o melhor quero distância dela e suas personagens 🙁
    Beijão
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

    Resposta
    • 31 de julho de 2016 em 19:48
      Permalink

      Gi, hoje eu gosto mais da Charlotte que da Jane Austen, confesso rsrsrs

      bjs, Mi

      Resposta
  • 1 de agosto de 2016 em 19:44
    Permalink

    Olá, Mi!
    Infelizmente, até o momento só assisti ao filme de Jane Eyre (que por sinal, é um dos meus preferidos ♥), mas pretendo ler o livro, com certeza, assim que o adquirir.
    Penso que vou amar a leitura, assim como vc! A Jane me parece uma protagonista forte e determinada, bem como, na adaptação para o cinema.
    Essa edição da Martin Claret é linda! Eu quero !
    Bj, Mi!

    Resposta
    • 2 de agosto de 2016 em 01:22
      Permalink

      Cailes!! preciso ver o filme!!!! Fiquei curiosa agora!!

      Bjs

      Resposta

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