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O Cemitério de Praga [Resenha Literária]

LIVRO: O Cemitério de Praga
AUTOR: Humberto Eco
Editora: Record
Ano: 2014 (11ª edição)
São intensas, intrigantes e enigmáticas 477 páginas escritas por Humberto Eco em O cemitério de Praga. Autor do romance histórico medieval O Nome da Rosa, desta vez o professor da Universidade de Bolonha nos leva a Europa do século XIX, tendo como personagem principal Simone Simonini. Curiosamente dos mais de cinquenta personagens citados ao longo da história, o único personagem fictício é Simonini, todos os demais são personagens reais e que tiveram suas falas preservadas na complexa trama elaborada por Eco.
A história se desenrola a partir da dúvida de Simonini, questionando se ele estaria sofrendo de dupla identidade ou se havia de fato um sujeito chamado Dalla Piccola, que tinha um quarto com uma passagem secreta que dava para a moradia de Simonini. A partir da dúvida primária, por intermédio da reconstrução da vida de Simonini, somos levados a uma Europa oitocentista efervescente de ideias, tensões e transformações, mas acima de tudo a uma Europa marcadamente antijudaica.
Em outras palavras, por meio da vida do personagem central Humberto Eco nos apresenta toda uma intensa produção intelectual que perpassa por indivíduos como Freud, Dumas, Marx, Flaubert, Froust, entre tantos outros de forma a apontar como a questão judaica foi pensada e repensada e quase sempre sinalizada como um problema por aqueles que entendiam que os judeus (ou os maçons, ao longo da narrativa os judeus serão identificados como os fundadores da maçonaria) eram os responsáveis por todas as mazelas e guerras que assolavam a humanidade (que deve ser entendido como cristãos).
Todos estes autores estarão de alguma forma, direta ou indireta, ligados a Simonini, que em um, primeiro momento, estarão atuando na sua vida de falsificador e espião e serão decisivos, em um segundo momento, para a elaboração de sua maior façanha conhecida por nós ainda hoje como os Protocolos dos sábios de Sião. O autor talvez deve estar se perguntando se estes foram os mesmos documentos acionados por Hitler em seu trabalho Mein Kampf para argumentar que os judeus representam uma ameaça ao povo ariano, e aqui cabe a mim dizer que se você pensou isto, você está corretíssimo!
Assim, mais do que um livro fantástico sobre o pensamento do século XIX no que diz respeito ao antijudaísmo, o livro ainda nos leva a seguinte indagação: quais são os limites entre História e Literatura? Qual é a relação entre o real e o fictício? Enfim, um texto magistral e que eu ainda não entendi por qual motivo a obra não teve também uma adaptação para o cinema, tal como O Nome da Rosa
Abs,
Juliana Cavalcanti
Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi.
    Puxa, parece sensacional.
    Essa mistura de fatos reais, dados históricos e personagens importantes me deixou extremamente interessado no livro.
    E desse autor se espera livros realmente bons, depois do sucesso O nome da rosa.
    Fiquei muito curioso mesmo.
    Coloquei na lista de desejos.
    Abraços.
    Diego || Diego Morais Viana

  • Oi Juliana!
    Gostei muito da resenha, você conseguiu informar exatamente do que se trata o livro, pois a sinopse dele é super confusa. Concordo que a adaptação para o cinema seria bem interessante, pela importância histórica dos fatos abordados.
    Beijos... Elis Culceag. * Arquivo Passional *

  • Uma amiga me recomendou ele a um tempo, eu comprei e fui tentar ler... Mew, eu odiei esse livro. Na realidade é um dos poucos livros que abandonei na vida... muito lento, muito chato... assim... é minha opinião pessoal...rsrsrs mas gosto não se discute.
    Abraços!

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