A ideia era ter sido apenas um final de semana com as amigas da pós e, claro, ter o prazer de voltar ao teatro. Há tempos não me dava o prazer de ir assistir uma boa peça e no final, ver a peça, revelou-se um momento de pura reflexão sobre questões cotidianas e sobre nós, seres humanos.
A peça “Galapagos” é fruto de um trabalho em parceria Kadu Garcia (de “Vianninha Conta o Último Combate do Homem Comum”) e Paulo Giannini (de “Homem de Barros”) em pesquisar a dramaturgia de Edward Albee (de “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?”) e Harold Pinter (ícone do teatro do absurdo). Uma bela equipe não poderia produzir algo diferente do que foi este projeto, realmente algo muito profundo.
O enredo se passa em um bar de um navio que está a caminho de Galápagos. O bar pouquíssimo frequentado serve de pano de fundo para o encontro de dois curiosos viajantes que tem mais em comum com eles próprios e com nós mesmos do que possamos imaginar. A cada encontro entre Vander (casado e ex-rockeiro) e Carlos (é cego e artista plástico), não só descobrimos um pouco mais da história dos personagens, bem como suas tristezas, expectativas, desilusões e buscas por caminhos alternativos.
Sensações são transmitidas com tamanho impacto que nos fazem pensar em nossas próprias histórias de vida, amores deixados para trás, escolhas que poderíamos ter seguido, mas por algum motivo não fomos capazes de persegui-los.
Mas não pense que esse mar de reflexões te levam a chorar ou a entrar em estado de depressão. A constante tensão entre personagens, tão emblemáticos e ao mesmo tempo tão costumeiro, é sempre transmitida de forma leve e com vários cortes da cantora que todas as noites canta no bar. As letras podem num primeiro momento parecer apenas como intervalo e a motivação para o reencontro dos personagens Carlos e Vander, mas com o decorrer da narrativa percebemos que cada letra é o ápice dos desabafos e reflexões trazidas pelos personagens.
A peça é um convite para sairmos da vida programada, monótona e controlada que vivemos, vida essa simbolizada pelo bar. E a própria Galápagos é o simbolismo máximo ou a expressão máximo de uma profunda busca por nós mesmos e para o que entendemos ou queremos de nossa sociedade, é a materialização de uma sociedade que sente e reflete mais. Ao invés de apenas viver de espetáculos que servem como mecanismos de repressão.
Até a próxima!
Bjs, Juliana Cavalcanti
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Confesso que fiquei ansiosa esperando essa resenha enfim sair, porque estava louca para ver inaugurada a coluna "Teatro" kkk...
Quando li seu texto Ju me peguei desejando muito poder ir ver essa peça e refletir junto com os personagens. Inveja branca de tua vida cultural. Espero que mais resenhas de teatro apareçam por aqui!
Cheros.
Acho que essa é a primeira vez que vejo uma resenha de uma peça hehe. Não me mate, morro de vergonha por isso, mas nunca fui ao teatro. Tenho muita vontade de ir, mas aqui na minha cidade, quando tem alguma coisa, são peças infantis que não me interessam.
Blog Prefácio
Olá! Na minha cidade é muito complicado achar peças para o pessoal da minha idade, isso é bem chato, eu amo teatro e sinto muita falta.
http://whoisllara.com
Oi, tudo joia?
Aqui onde moro sempre tem peças de teatro e tudo mais, porém nunca vou por falta de tempo, a sua resenha ficou maravilhosa. Parece ser muito bom o teatro;
Beijos
intoxicadosporlivros.blogspot.com.br
Oláá! Nossa, fui tão no automático no comentário excluído que escrevi livro em vez de peça kkkk vamos de novo: Eu não conhecia essa peça, mas acho que eu ia gostar! Primeiro porque amo teatro, mesmo indo só de vez em quanto e segundo porque adoro qualquer coisa com reflexões e o último parágrafo da sua resenha me convenceu! *-* Bjos
http://www.bibliophiliarium.com
Vi esta peça e depois encontrei os atores no saguão do hotel. Fui até a um deles e perguntei se ele realmente não era cego.
Ótima interpretação. Ótima trilha sonora.
Alguém sabe quais são todas as músicas tocadas?