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Cazuza e o existencialismo da juventude de 1980: breves devaneios musicais

Há muito tempo venho tentando escrever sobre o Cazuza, suas letras me encantam e me reconquistam cada vez que as ouço. No entanto, ao tentar escrever essa postagem verifiquei que escrever sobre suas letras se tornou algo quase que impossível, ainda mais o recorte que resolvi tomar: existencialismo. Muitos vão me perguntar: “mas, Ju, por que esse tema?” E eu responderei, Cazuza se insere num período pós-ditadura militar. Cazuza foi de uma juventude de transição: muitos sonhos, muitas perguntas, muitas frustrações. Enfim, uma juventude em busca de sua própria identidade, que também estava em meio a um país que estava também tentando encontrar caminhos para a política e economia e mesmo para a memória nacional.
Não bastasse tudo isso, Cazuza – em particular – em 1987 descobre que era portador do vírus HIV. Posso estar totalmente enganada em correlacionar diferentes fatores, mas é curioso pensar que é neste mesmo ano que Cazuza começou a gravar o disco “O tempo não Para”. Disco este que mantém um tom melancólico, próprio de suas composições e também fruto das influências musicais que este teve em sua formação. Contudo, suas letras trazem um elemento a mais, uma conotação de reflexão, de desilusão, de uma busca por si mesmo (tanto no eu individual como no eu coletivo).
Como quero que meu devaneio seja breve, selecionei três músicas que compõe o disco acima citado. A escolha por estas três se deve ao fato de realmente acreditar que elas não só são o grande símbolo desse disco, bem como representam muito bem minha impressão sobre o Cazuza e o período em que ele se insere.
A primeira é de nome homólogo ao disco “O tempo não para”:

                    

Já nos primeiros versos, Cazuza diz estar cansado de andar em direção contrária e que está em meio a ressentimentos frente a sua realidade pessoal e coletiva. Percebemos também um tom de denúncia e ainda que a desilusão lhe atinja por ver “o passado o futuro repetir o passado”, sua esperança parece lhe manter ativo, pois “o tempo não para”.
A segunda é “Ideologia”:

                    

Reconheço que quando comecei a pensar em o que dizer de “Ideologia”, foi duro, difícil. Por que acho que ela captou como nenhuma outra música o sentimento desse momento. E sempre que a escuto associo a duas pessoas que amo muito e que foram desse período e que ainda hoje carregam de diferentes formas esse sentimento de busca de si mesmo e busca de um “eu” coletivo. E mais do que isso, um sentimento de revolta frente às frustrações diárias. E por isso mesmo querem “uma ideologia para viver”.
A última selecionada foi “Brasil”:

                    

Questiona e muito a realidade, mas ao mesmo tempo quer entender que realidade é essa que ele herda e vive. E aqui ele também trás um tom de reação, tal como “O tempo não para”. Com o diferencial que ele se reconhece no eu coletivo e que agir, quer intervir na grande pátria que acredita ser desimportante, mas que ainda sim lhe jura fidelidade.
Enfim, é isso, espero que tenham gostado!
Abs, Juliana Cavalcanti
Michele Lima

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  • Esses devaneios musicais são excelentes. Você faz uma interpretação de tudo, com coisas que nem pensaríamos que existisse nas músicas. ^^

    Até mais

  • A minha rebeldia é quase toda baseada em Cazuza e suas ideias pra lá de criativas, mas eu tenho q dizer, q a seleção que vc fez é muito legal, assim como as conclusões q vc chegou ao tentar analisar cada uma delas. Dizem q ideologia, assim como a Via láctea de Renato Russo está falando da doença que eles viveram, e como cada um lidou com isso. Acho q a música mais "enigmática" ao qual ele deixou é poema, da qual nunca chegou a gravar. bjooo

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Michele Lima

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