Era uma vez, uma moça que sonhava em se casar. Começou a namorar muito cedo com Júlio, um jovem um pouco mais velho do que ela. Sentindo-se muito feliz pelo carinho excessivo de seu primeiro namorado, que a queria só para ele, não deu muita atenção para as amigas, que reclamavam constantemente de sua ausência.
Aos vinte anos de idade casara-se com Júlio, um pouco às pressas por causa de um pequeno acidente de percurso, o primeiro filho. Três anos de casamento, dois filhos e dez quilos a mais. Antes até tinha pensado em seguir uma carreira acadêmica, mas logo chegou à conclusão de que nada era tão gracioso e gratificante quanto seguir a carreira de ser mãe. Lavar, passar, cozinhar, arrumar a casa e cuidar dos filhos; artes finas que exigem cuidados e perseverança; é arte de uma luta diária. O choro das crianças às seis da manhã, o choro da fome no horário do almoço, e o choro da tarde na hora da novela das seis, eram músicas belas aos seus ouvidos. As exigências do marido e das crianças a faziam feliz, porque afinal de contas, todos precisavam dela; ela era importante para eles.
Era tão importante que não tirava nem um dia de folga, nem aos domingos, quando a sogra ia visitá-los para colocar milhões de defeitos na vida do filho e nem mesmo no dia das mães, já que era essencial cozinhar e mostrar a todos o quanto era profissional na arte da maternidade. O marido, constantemente a calava em meio a acalorados gemidos de prazer e ela se sentia feliz, pois não precisava nem gemer para se tornar presente naquele espaço de amor.
Um dia, por tanto trabalhar naquela arte de ser dona-de-casa, ela percebeu que suas unhas estavam feias e roídas e pediu a Júlio que lhe desse dinheiro para fazê-las: “Querida, você é tão bela que não precisa dessas frescuras, não podemos gastar assim à toa e, além do mais, não quero você se exibindo por aí”. Embora não quisesse deixar transparecer, ficou levemente magoada com o marido.
Na manhã seguinte, levantou-se com as crianças chorando, mas não lhes deu de mamar, não arrumou a casa e nem deu ao marido o prazer matinal. Não sabia se era exatamente por causa do acontecimento do dia anterior, mas pegou um antigo vestido vermelho e um batom cor de sangue (da época em que era solteira, já que Júlio não a deixava usar essas coisas), colocou anéis, colares e pulseiras, pôs um pouco de roupa em uma mala velha e saiu para o mundo. Foram dias incríveis, cheios de detalhes que nem ela mesma conseguiria descrever. Assistiu a filmes, peças de teatro, foi a bares e shoppings, reencontrou antigas amigas, recebeu várias cantadas e até fez amor com um desconhecido, que no final do esplêndido gozo lhe disse: “Agora vá querida, as crianças continuam chorando.”
Michele Lima
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E eu começo a achar que minha vida caminha as mil maravilhas... Antes só que mal acompanhada!
uau adorei esse! Inclusive está bem mais bem escrito que aquele outro que vc me mostrou.
Michelle
Adorei seu conto. É com esses "Devaneios Literários" assim que se começa. Surge um primeiro conto e daí estamos dando os primeiros passos de uma futura escritora.
Tenho um blog chamado Mamyrene que foi onde comecei a minha vida de blogueira lá criei " Momentos de Inspiração". Dó que esse ano fiquei muito ausente e recomecei devagar na semana passada.
Quem sabe vai gostar de participar.
Tenho outras idéias e com certeza vou te avisar.
Beijos
Oi Irene, que bom que gostou do conto! Fico muito feliz! não é sempre que a inspiração acontece, mas quando acontece eu trato de escrever kkkkkk! Vou agora mesmo dar uma passada no seu blog!!!
Bjs, Mi
Oi Guria.
Báh, seu conto ficou muito bom mesmo e no finalzinho acabei rindo , constatação de como algumas coisas vão se encaminhando na vida xD
Bom eu espero poder mais contos , Michele (:
http://romances-para-te-fazer-feliz.blogspot.com.br/
Obrigada Caroline!! Que bom que gostou!!
Nossa prefeita Michele mostrando seus dons literários! Parabéns! :D