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Por mais Ultraje no universo! [Música]

Marcos Kleine, Bacalhau, Mingau e Roger Moreira
Um dos dias mais bonitos da minha vida foi o dia em que ouvi o verso “a barriga pelada é que vergonha nacional” apesar do tão marcante “pelado, pelado, nu com a mão no bolso“. Ou seja, o dia em que descobri as entrelinhas escritas, cantadas e ignoradas por muitos dos que conhecem sucessos da banda paulista Ultraje a Rigor. E eu realmente sinto pena de pessoas acham que “a banda se faz de engraçada“. “Ironia” está longe de “fazer graça“, tal como “se divertir” está longe de “se fazer de palhaço“.
Logo da banda
Enfim, o negócio é que desde seus primórdios o Ultraje juntou três palavras: inteligência, diversão e rock’n’roll. Não falo isso porque o vocalista, guitarrista e principal compositor Roger Moreira tem um QI além da média, mas sim porque eles salvaram meu cérebro adolescente com ideias como: “Agora eu tenho uma razão pra viver/Agora eu posso até gostar de você/Completamente eu vou poder me entregar/É bem melhor você sabendo se amar” (se as pessoas assimilasse isso, haveriam menos relacionamentos fracassados) e “É melhor se arrepender do que se fez do que não ter tido a coragem de fazer” (o velho “quem não arrisca, não petisca“, sempre difícil de pôr em prática).
Ao contrário do que sempre faço por aqui, não vou entrar em detalhes de histórico e formação de banda pelo simples receio de escrever bobagem. Interessados devem procurar o livro que, quando vi na vitrine de uma livraria me fez congelar por uns dez minutos antes de iniciar um colapso nervoso de dias até tê-lo na minha estante: Nós Vamos Invadir Sua Praia. Sem dúvida um dos livros mais lindos do setor de biografias musicais da minha estante (ou seja, ninguém toca).
Destaco duas informações do livro que me fizeram adorar ainda mais a banda:
Capa do livro lançado em 2011
a) Roger Moreira respeita as sílabas tônicas das palavras nas músicas. Um detalhe que nunca tinhaE fomos pra casa“, ele cantaria “E fomos pra caaaasa” e não “E fomos pra casaaaa“, entenderam? Parece simples, mas não é. Quer dizer, se imaginem compositores. Se já não é fácil achar palavras que se encaixem nos versos, que dirá palavras com a sílaba tônica correta. (Momento: vamos ter pena de quem não saca a genialidade da banda.)

notado, mas que faz uma baita diferença (comecei a complicar com certos posts virtuais que não respeitam essa regra). Por exemplo, se ele fosse cantar o verso “

b) Há uma foto linda-maravilhosa-fantástica do Roger Moreira vestindo um pala gaúcho numa turnê por essas bandas. Mais que isso: há uma citação em que ele diz que Caxias do Sul é o lugar mais frio do mundo (eu devia ter citado isso pros alemães que achavam que o Brasil era só sol, praia e calor, e ao mesmo tempo me chamavam de louca por andar de manga curta com 15ºC às 7h).
Também vale dizer aqui (só pra registrar mais uma vez como eu sinto pena de quem acha que o Ultraje é só uma banda engraçada) que, na época do meu estágio de Magistério, na época em que tinha saído a maravilhosa lei que diz que a Educação Musical é obrigatória (só esqueceram a parte de montar a estrutura – e aqui falo em preparar professores também – pra isso), dei “Preguiça” para os meus alunos e a primeira observação que ouvi (de uma menina de 9 ou 10 anos) foi: “Profe, tem um verso do Hino Nacional aqui“. Até então essa era uma sacada do Roger que eu não tinha sacado. Esse é o momento de reflexão para os que ainda não foram iluminados pelas palavras do Ultraje: Em que o nome da música pode se relacionar com o Hino Nacional? Essa questão fica como dever de casa, quando vocês acharem a resposta verão que o mundo se tornará mais bonito.
Enfim, já falei o que tinha pra falar da banda, agora passamos pro exercício prático: ouvir, citar, entender e admirar. Cinco músicas pra não ficar aqui desenhando todas as maravilhas da banda.
1. Dos cutucões àquela mania de se satisfazer com resultados medianos e culpar os outros:
“Se eu me esforço demais vou ficar cansado
Já dá pra enganar eu ficando suado
Se reclamarem eu boto a culpa no patrocinador”
2. Dos cutucões à sociedade pela naturalidade com que vivem certos tipos de seres:
“Canalhas em qualquer posto dessa nossa sociedade
Os cafajestes do Brasil podem viver com toda liberdade”
3. De como é estranha a lógica de censuras feitas (não só pela mídia, mas pela sociedade em si):
“E é eleição, é inflação
Corrupção e como tem ladrão
E assassino e terrorista
E a guerra espacial”
4. Dos tapas na cara que temos que levar de vez em quando.
“Você precisa ter coragem
Coragem pra reagir
Coragem pra crescer
Coragem pra decidir
Coragem pra viver”
5. De como, apesar dos pesares, é bom ser brasileiro.
“Não, a minha teimosia é diferente
A minha teimosia é o que me faz seguir em frente
É aquela teimosia típica de brasileiro
Que insiste em continuar vivendo sem ganhar dinheiro”
Enfim, vão ouvir Ultraje e ser felizes. De verdade, é terapêutico.
*Discografia e outras informações sobre a banda podem ser encontradas no SITE deles.
Na Nossa Estante

View Comments

  • Eu tive uma oportunidade inesquecível ano passado de assistir a um show deles de graça!! Foi na comemoração do Dia Mundial do Rock. E devo dizer, que muitas músicas, as antigas por exemplo, são um tapa na cara da sociedade. Aliás, um tapa bem dado, daqueles que ficam marcas.

    Não sabia que eles tinham um livro? Com certeza vou querer ler (mais para frente) só para conhecer mais dessa genialidade. xD

    Ótimo post!!

    Até breve!

  • Não posso dizer que sou fã do Ultraje. Mas, como fã do rock, escuto algumas músicas deles sim e tipo é aquela coisa não se faz bandas como antigamente. Gostei bastante do seu post, ficou bem legal as curiosidades que muitas nem conhecia.

    Lucas - Carpe Liber
    livrosecontos.blogspot.com

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